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ELIANE CANTANHÊDE
Entre Lula e Bush, as ruas
SÃO PAULO - Lula e seu governo
se esgoelam nos gabinetes de Brasília para descartar qualquer acusação de anti-americanismo enquanto as esquerdas, inclusive algumas
tradicionais bases petistas, se esfalfam nas ruas do país para comprovar justamente o contrário.
Não deixa de ser curioso registrar
que o governo do PT, "de esquerda",
proporciona dois encontros presidenciais num só mês -o de hoje,
em São Paulo, e o do próximo dia 31,
em Washington. E que os dois lados
não se cansam de dizer que "nunca
antes" as relações entre Brasil e
EUA estiveram tão boas.
Enquanto isso, as esquerdas que
vão às vias de fato, se estapeando,
apanhando, berrando o "fora
Bush", estão menos identificadas
com o governo Lula e mais com o de
Hugo Chávez, na Venezuela.
Ruim para Lula? Não, muitíssimo
ao contrário. Quanto mais Chávez
chamar Bush de "el diablo" e quanto mais PSTU, MST e outros do gênero saírem por aí queimando bonecos de Bush, mais Lula se torna
importante para o principal governo e maior mercado do mundo. O
contraponto, o equilibrado, o confiável. Aquele com o qual vale a pena fazer acordos e parcerias. Até para "segurar" os tentáculos chavistas
pela Argentina, pela Bolívia, pelo
Equador. Por enquanto.
No memorando que os dois presidentes vão assinar hoje para desenvolver o álcool combustível, está
prevista a cooperação bilateral em
três áreas: difusão do produto e de
sua tecnologia para terceiros países, pesquisa e tecnologia e normatização e padronização (necessários para transformar o álcool em
commodity internacional).
Bush e seu governo não cederam
na questão mais objetiva e crucial, a
dos subsídios e taxas impostas ao
álcool brasileiro, que está sendo
empurrada para "fóruns mais apropriados". Mas o memorando é um
bom acordo, digamos que um bom
começo de conversa.
elianec@uol.com.br
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