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NELSON MOTTA
Os pais da criança
RIO DE JANEIRO - O Rio agradece a cordial visita presidencial, mas
lembra que Lula e Zé Dirceu tem
uma dívida impagável com os cariocas. Nas eleições de 1998, numa jogada política desastrosa, intervieram no diretório carioca do PT, cassando a candidatura de Vladimir
Palmeira e fechando uma aliança
com Garotinho, com Benedita de
vice.
Só assim o esperto caipira, fragorosamente derrotado quatro anos
antes, pôde se eleger governador,
derrotando o favorito César Maia,
que, com todos os seus defeitos, era
um mal muito menor.
E para quê? Para, durante oito
anos, infernizar a vida de Lula, do
PT e da cidade do Rio de Janeiro,
onde jamais ganhou uma eleição: o
grosso de seu eleitorado sempre foi
a clientela do interior e dos grotões.
Muitas vezes, na calada do Planalto, torrando um Cohiba, Lula e
Dirceu devem ter repetido o lamento do general Golbery sobre o SNI:
"criamos um monstro". Mas era
tarde demais, o governo estadual
engendrado pelo gênio político da
dupla abriu guerra total contra o
governo federal e a prefeitura da capital, com os fins e os meios que se
conhecem, e os cariocas pagaram a
conta.
Em 2002, numa jogada política,
esta, sim, magistral, Garotinho levou fé que Bené não resistiria à tentação de nove meses em palácio e
que o PT avançaria sobre o banquete de cargos, renunciou e deixou-lhes um abacaxi cabeludo, com o
Estado endividado e a expectativa
de um caos administrativo.
Não deu outra: Bené se aboletou
no Palácio Guanabara, e o PT tentou abocanhar todos os cargos possíveis no Estado e recebeu de Garotinho a merecida alcunha de "partido da boquinha". Com o governo
petista e Benedita desmoralizados,
o desastre anunciado permitiu a
volta do garotismo ao poder com a
eleição da inacreditável Rosinha.
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