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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Os Donos da Salada
SÃO PAULO - Aclamado como novo "gerente do PAC" pelos seus correligionários do PTB, o senador
Fernando Collor, eleito presidente
da cobiçada Comissão de Infraestrutura, assume, enfim, papel de
destaque no consórcio lulista de poder, conduzido ao novo cargo pelas
mãos hábeis do PMDB de José Sarney, auxiliado pelas reinações de
Renanzinho, o senador Calheiros.
O inventor de Miriam Cordeiro, o
"caçador de marajás", aquele cujos
métodos e slogan de campanha já
anunciavam a delinquência e o desmanche do Estado que viriam a seguir, torna-se, 20 anos depois, linha
auxiliar do PT e da candidatura Dilma Rousseff. A unir as duas pontas
-Lula e Collor- estão os indefectíveis bigodes de Sarney, o presidente
da Arena, o antigo inimigo comum,
o "mais corrupto" dos governos,
conforme berravam colloridos e petistas nos idos de 89.
O que mudou? Collor? Lula? O
Brasil? Ou ninguém? A resposta
passa pela capacidade das oligarquias, que a figura de Sarney ilustra
tão bem, de permanecer no poder
desde os tempos da lamparina. Em
outras palavras: podemos continuar a dividir o mundo entre esquerda e direita, mas o nexo decisivo da política brasileira não está aí.
O que explica as alianças esdrúxulas, as clivagens frouxas, a dinâmica tortuosa, a vocação acomodatícia e o eterno faz-de-conta do jogo
do poder entre nós é o velho, porém
tão atual, patrimonialismo -a
apropriação privada da República.
O "homem cordial" de Sérgio Buarque ainda é o nosso tipo ideal.
Esquerda e direita, no Brasil, se
se confundem na boca do caixa, no
assédio aos cofres públicos mais ou
menos ostensivo, da pilhagem descarada do Estado à simples boquinha hoje capaz de calar a disposição
crítica de tantos radicais de ocasião
(ou que antes viviam sem ela).
A seu modo, Lula intui tudo isso
quando pede ao PT que faça do episódio Collor "uma boa salada". O
prato é conhecido. Nosso "chef" de
São Bernardo apenas acrescentou à
velha receita caseira o tempero sindical e chamou à mesa a burguesia
do capital alheio.
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