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Silêncio ensurdecedor
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - O Brasil fez um acordo com
a Venezuela e enfim abriu a área do
refino, ainda monopólio da Petrobras.
E o que disse o ministro das Minas e
Energia, Rodolpho Tourinho? Quase
nada, além de duas ou três palavras às
6h de sexta-feira, saindo do hotel em
Caracas.
O tal acordo vai possibilitar ao Brasil explorar o precioso e farto petróleo
da Venezuela, um dos maiores produtores do mundo e membro da Opep.
E o que explicou o presidente da Petrobras, Henry Phillipe Reichstul? Praticamente nada, também num encontro casual no fim da viagem.
O BNDES financia toneladas de dólares para projetos privados na Venezuela, especialmente da construtora
Norberto Odebrecht. Um deles, uma
ponte no rio Orinoco, serviu para solenidade e passeio de navio de FHC e o
presidente Hugo Chávez.
E o que disse Alcides Tápias? Nada.
Apesar de ministro do Desenvolvimento e chefão do BNDES, chegou
mudou e saiu calado da Venezuela.
Onde se quer chegar? Ao óbvio: Tourinho, Reichstul e Tápias não são da
iniciativa privada. Eles devem satisfação à opinião pública e, queiram ou
não, a imprensa é um canal não só legítimo como eficiente entre os dois
-poder público e opinião pública.
Quem deu os valores da ponte foi um
coordenador de não sei o quê da Venezuela, numa nota em espanhol. E
quem informou o acordo do petróleo
aos jornalistas brasileiros foi Chávez,
esclarecendo não saber detalhes: "Não
sou técnico". Vai desculpando aí,
"seu" Chávez, mas os técnicos estão
olhando o próprio umbigo.
FHC reclama que seus ministros
"não batem bumbo" pelas coisas boas
do governo. Mas é pior. Também não
se sentem no dever de explicar coisa
nenhuma, boa ou ruim.
Foi assim que deixaram não uma
pergunta, mas uma suspeita, no ar:
com as estradas brasileiras caindo aos
pedaços, qual a lógica de o BNDES financiar US$ 430 milhões para uma
ponte da Odebrecht na Venezuela?
Lógica, tem. Só de raiva, não conto.
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