São Paulo, domingo, 09 de abril de 2000


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Silêncio ensurdecedor

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - O Brasil fez um acordo com a Venezuela e enfim abriu a área do refino, ainda monopólio da Petrobras.
E o que disse o ministro das Minas e Energia, Rodolpho Tourinho? Quase nada, além de duas ou três palavras às 6h de sexta-feira, saindo do hotel em Caracas.
O tal acordo vai possibilitar ao Brasil explorar o precioso e farto petróleo da Venezuela, um dos maiores produtores do mundo e membro da Opep.
E o que explicou o presidente da Petrobras, Henry Phillipe Reichstul? Praticamente nada, também num encontro casual no fim da viagem.
O BNDES financia toneladas de dólares para projetos privados na Venezuela, especialmente da construtora Norberto Odebrecht. Um deles, uma ponte no rio Orinoco, serviu para solenidade e passeio de navio de FHC e o presidente Hugo Chávez.
E o que disse Alcides Tápias? Nada. Apesar de ministro do Desenvolvimento e chefão do BNDES, chegou mudou e saiu calado da Venezuela.
Onde se quer chegar? Ao óbvio: Tourinho, Reichstul e Tápias não são da iniciativa privada. Eles devem satisfação à opinião pública e, queiram ou não, a imprensa é um canal não só legítimo como eficiente entre os dois -poder público e opinião pública.
Quem deu os valores da ponte foi um coordenador de não sei o quê da Venezuela, numa nota em espanhol. E quem informou o acordo do petróleo aos jornalistas brasileiros foi Chávez, esclarecendo não saber detalhes: "Não sou técnico". Vai desculpando aí, "seu" Chávez, mas os técnicos estão olhando o próprio umbigo.
FHC reclama que seus ministros "não batem bumbo" pelas coisas boas do governo. Mas é pior. Também não se sentem no dever de explicar coisa nenhuma, boa ou ruim.
Foi assim que deixaram não uma pergunta, mas uma suspeita, no ar: com as estradas brasileiras caindo aos pedaços, qual a lógica de o BNDES financiar US$ 430 milhões para uma ponte da Odebrecht na Venezuela?
Lógica, tem. Só de raiva, não conto.


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