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A chama olímpica
A DITADURA chinesa e o Comitê Olímpico Internacional já devem se perguntar, nesta altura, se foi sábia a
decisão de conceder a Pequim o
privilégio de sediar os Jogos de
2008. Em retrospecto, e diante
das cenas de pugilato em que se
transformou a passagem da tocha olímpica por Londres e Paris, parece óbvio que a mistura
do chamado ideal olímpico com
a propaganda de um governo recordista em violações dos direitos humanos resultaria num pesadelo de relações públicas.
O questionamento já terá também ocorrido aos patrocinadores, cujas cotas de apoio para a
realização do percurso de 136 mil
km por 21 países são estimadas
em US$ 15 milhões cada. Manifestantes favoráveis à independência do Tibete, conhecedores
dessa vulnerabilidade, utilizam o
evento como um amplificador
mundial para sua campanha.
Ao governo chinês resta apenas censurar as cenas incômodas
na televisão do país-sede, como é
sua praxe. Aos patrocinadores,
porém, não interessa ver seus logotipos associados, no restante
do mundo, com o símbolo olímpico formado por algemas e militantes ensangüentados.
Tais cenas se repetirão, não só
em San Francisco (EUA), hoje,
mas nos próximos 50 dias e mesmo em solo chinês. O governo ditatorial, que vê na Olimpíada a
plataforma para polir a imagem
da potência econômica e geopolítica, poderá até calar os chineses, mas terá dificuldade para reprimir turistas e atletas que decidirem usar o mesmo palco para
condená-lo.
Um modo doloroso, porém eficaz, de despertar para a importância dos direitos humanos no
cenário internacional. A ditadura instalada na China quiçá acreditou que ficaria com o bônus
dos Jogos de Pequim sem arcar
com o ônus.
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