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ELIANE CANTANHÊDE
Jatos e jatinhos
DUBAI - O Brasil tem cerca de 190
milhões de habitantes, um litoral
extraordinário, a Amazônia, o Pantanal, rios, cachoeiras, montanhas e
um clima invejável o ano inteiro.
Mas só atraiu 5 milhões de turistas
estrangeiros em 2008.
Já o pequeno, e em certa medida
"fake", Dubai, com 1,4 milhão de habitantes, recebeu 10 milhões de turistas de todas as regiões do mundo
no ano passado e, com eles, dólares
e euros. Teve até de importar mão-de-obra especializada, inclusive
competentes jovens brasileiros.
O que Dubai tem que o Brasil não
tem? Essa é fácil. Tem decisão política, infraestrutura, planejamento.
E não tem sujeira nem violência. O
fato de ser uma faixa habitada entre
os encantos do deserto e o mar muito azul, com calor todo o ano, ajuda,
claro. Mas não chega a ser realmente decisivo. Mais do que as condições naturais, em que jamais poderia competir com o Brasil, pesam as
decisões governamentais que tanto
faltam no nosso país.
De um lado, o xeque Mohammed
al Maktoum preserva a identidade e
os direitos básicos dos cidadãos; de
outro, investe tudo no turismo e
corta impostos. Para começo de
conversa, Dubai tem a sua própria
companhia aérea, a Emirates, privada, com rotas para todos os continentes. Depois, ele atraiu com terrenos e incentivos as grandes redes
hoteleiras do mundo, e os hotéis são
fantásticos, para todos os gostos e
bolsos. O marketing é a alma do negócio. E do país.
O petróleo, hoje, só responde por
3% a 5% do PIB, contra 20% do turismo. O xeque pode ser o símbolo
do passado, com seu regime, seus
trajes e suas manias, mas é bem
mais moderno do que os políticos
brasileiros, em muitos sentidos. No
Brasil, os políticos querem jatinhos
só para eles próprios voarem por aí.
Em Dubai, o xeque tem lá os seus
jatos, mas garante as condições para que os jatos privados (como os
recursos, públicos ou não) levem
turistas, desenvolvimento e bem-estar para a população. Resultado:
não se vê um pobre na rua.
elianec@uol.com.br
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