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CLÓVIS ROSSI
Os bons (ou maus) companheiros
SÃO PAULO - Começo de onde Delfim Netto terminou sua coluna de
ontem. Dizia o deputado:
"Na minha opinião, essa mudança
será muito mais profunda com José
Serra do que com Luiz Inácio Lula da
Silva. Como de costume, o tal "mercado" está mal informado...".
Como sou mais moderado e conservador que Delfim, não vou tão longe.
Mas sou forçado a admitir que, se
Serra aplicar as teses que defende ao
menos nas conversas reservadas, estará mais para Arlette Laguiller, a
candidata trotskista à presidencial
francesa, do que para Lionel Jospin, o
social-democrata com o qual o PFL
comparou o tucano brasileiro.
Por que, então, como lembra Delfim, o mercado se agita quando Serra
tem dificuldades?
Simples: vale, para o mercado, o
surrado ditado popular "diz-me com
quem andas e te direi quem és".
Com quem anda Serra? Com a
quase totalidade do empresariado
industrial, inclusive (ou principalmente?) com os iconoclastas do Iedi,
o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial.
Em quem apostava o poderoso
banqueiro Olavo Setúbal mesmo
quando havia várias hipóteses de
candidaturas governistas? Adivinhou: em José Serra.
A chamada grande imprensa tende, quase toda, para Serra, ainda
que, felizmente, de forma menos escancarada na comparação com suas
escolhas em pleitos anteriores. Até esta Folha, que fez da independência
um formidável ativo (talvez o seu
principal ativo), é acusada insistentemente de "serrista".
Já cansei de dizer que não é assim,
mas e-mails com essa suposição continuam chegando em cachos.
O espaço não permite continuar
com a lista. Mas acho que basta para
mostrar que, ao contrário do que diz
Delfim, o mercado não está "mal informado" sobre Serra. Apenas aposta
no instinto de preservação de seus
companheiros de viagem.
Talvez se engane, talvez não.
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