São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Livro$

RIO DE JANEIRO - Leio com merecida atenção a matéria de Marcelo Rubens Paiva sobre a numeração dos exemplares dos livros -prática que era adotada por algumas editoras no passado, mas caiu em desuso. Aparentemente, seria uma forma de controlar a vendagem de cada edição, dando ao autor uma referência aceita pelo editor.
Na prática, o que prevalece, com ou sem a numeração dos exemplares, é a confiança no editor, que é o maior interessado na vendagem dos livros que lança no mercado.
Estranhei na matéria do Marcelo a referência a um episódio entre o escritor João Antônio e o editor Ênio Silveira, quando o autor teria ameaçado de morte o dono da Civilização Brasileira, subindo em sua mesa e exigindo o pagamento de direitos autorais.
Fui amigo de ambos e fui também editado pelo Ênio, que, durante anos, era o único a numerar os exemplares de cada edição que lançava, inclusive a das obras do grande contista de ""Malagueta, Perus e Bacanaço", que fora descoberto pelo próprio Ênio, que nele tinha um de seus mais queridos autores na fase de ouro de sua editora.
Já ouvira essa lenda, mas nunca acreditara nela. Nem João Antônio, mesmo em sua pior fase existencial, nem Ênio, que amargou a perseguição do regime militar a ponto de ser preso, ter o prédio de sua editora destruído, sendo obrigado a pedir concordata, nenhum dos dois vivenciaria uma cena de violência -que, diga-se de passagem, não é comum nas relações entre editor e editado.
No geral, prevalece até mesmo um certo paternalismo por parte do editor, que tem no autor a sua mais importante fonte de renda. Acontece que o livro, no Brasil, tem uma distribuição precária, uma exposição problemática nas livrarias e dificilmente é vendido na escala em que editor e autor desejam.


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