São Paulo, segunda-feira, 09 de maio de 2005

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BOLA PERDIDA

Em mais um episódio da vida nacional em que o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai numa direção e as ações de seu governo seguem por outra, foi anunciada no Palácio do Planalto a criação da loteria Timemania, com o intuito de sanear as dívidas dos clubes de futebol com a Receita Federal, o INSS e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Na ocasião, o presidente afirmou que é preciso "mudar o comportamento dos nossos dirigentes", conter o êxodo de jovens atletas para o exterior e transformar o futebol em espetáculo para a família. Seria muito difícil encontrar alguém, entre os incontáveis brasileiros que se interessam pelo esporte, que discordasse desses objetivos.
No entanto, o lançamento da Timemania -e de dois projetos de lei com vistas a reformular a legislação esportiva- perdeu a oportunidade de criar contrapartidas legais que induzissem à indispensável mudança do "statu quo" gerencial dessa atividade que hoje se insere numa bilionária indústria do entretenimento, mas permanece, no Brasil, administrada de maneira semi-amadorística e, em muitos casos, temerária.
A exemplo do que se passa em outras áreas, também o Ministério do Esporte deixou pelo caminho as promessas de mudanças de fundo, preferindo a via acomodatícia, que atende exatamente aos interesses daqueles de quem o primeiro mandatário cobra retoricamente novas atitudes.
O comportamento dos dirigentes de futebol não vai mudar por obra do discurso de Lula, muito menos do providencial atestado de adimplência que a Timemania poderá lhes conferir, mas sim com exigências legais que definam um novo marco regulatório esportivo, baseado na responsabilização dos gestores dentro de um regime empresarial.
Essa oportunidade, lamentavelmente, o governo petista acaba de perder. Resta esperar que o Congresso Nacional perceba a dimensão do equívoco e trabalhe para saná-lo.

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