São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2006

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CLÓVIS ROSSI

De máfia e traidores

FRANKFURT- Soraya Aggege, a repórter de "O Globo" que entrevistou Silvio Pereira, o ex-secretário geral do PT, acabou por servir ao público um complemento perfeito do relatório em que o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, descreve a cúpula do PT como "organização criminosa".
Ficou definitivamente claro que há uma perigosa máfia funcionando nas entranhas da República. Basta citar dois dos trechos da entrevista de Silvio Pereira.
Trecho 1 - "Vão me matar. Eles vão me matar, você não entende. Tem muita gente importante envolvida".
Trecho 2 - Reproduzindo fala de Marcos Valério a Pereira: "Tenho três opções: entregar todo mundo e derrubar a República, ficar quieto e acabar como o PC Farias, ou o meio-termo". Se não são momentos mafiosos, o que é máfia então?
Máfia, aliás, que continua atuando: "É um mecanismo e agora continua no país", atesta quem ajudou a construí-lo. Mecanismo que, na maneira econômica de descrevê-lo por Pereira, funciona assim: "As empresas entre si fraudam as coisas. Às vezes o governo não persegue".
O estilo mafioso aparece até na própria entrevista. Silvio Pereira, desprezado por aqueles que, segundo ele, "mandam" no partido, resolve abrir a boca. Mas abre só um pouquinho, o suficiente para passar este recado: "Eu sei tudo o que vocês fizeram nos verões passados. Ou me ajudam, ou falo tudo".
Ainda no estilo mafioso, agora a cúpula do PT diz que ele é um traidor e desequilibrado. Menos quando Pereira inocenta Lula. Nesse trechinho, é confiável. Pura "cosa nostra".
É bom lembrar que foi Lula quem se disse "traído" pelos companheiros, justamente por terem feito o que Pereira apenas confirma agora.
Mas, para o PT, traidor não é quem faz o que a "quadrilha" fez, mas quem, de suas próprias entranhas, relata fatos que a máfia preferia manter semi-soterrados.

@ - crossi@uol.com.br


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