|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
De máfia e traidores
FRANKFURT- Soraya Aggege, a repórter de "O Globo" que entrevistou
Silvio Pereira, o ex-secretário geral
do PT, acabou por servir ao público
um complemento perfeito do relatório em que o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza,
descreve a cúpula do PT como "organização criminosa".
Ficou definitivamente claro que há
uma perigosa máfia funcionando
nas entranhas da República. Basta
citar dois dos trechos da entrevista de
Silvio Pereira.
Trecho 1 - "Vão me matar. Eles vão
me matar, você não entende. Tem
muita gente importante envolvida".
Trecho 2 - Reproduzindo fala de
Marcos Valério a Pereira: "Tenho
três opções: entregar todo mundo e
derrubar a República, ficar quieto e
acabar como o PC Farias, ou o meio-termo". Se não são momentos mafiosos, o que é máfia então?
Máfia, aliás, que continua atuando: "É um mecanismo e agora continua no país", atesta quem ajudou a
construí-lo. Mecanismo que, na maneira econômica de descrevê-lo por
Pereira, funciona assim: "As empresas entre si fraudam as coisas. Às vezes o governo não persegue".
O estilo mafioso aparece até na própria entrevista. Silvio Pereira, desprezado por aqueles que, segundo ele,
"mandam" no partido, resolve abrir
a boca. Mas abre só um pouquinho, o
suficiente para passar este recado:
"Eu sei tudo o que vocês fizeram nos
verões passados. Ou me ajudam, ou
falo tudo".
Ainda no estilo mafioso, agora a
cúpula do PT diz que ele é um traidor
e desequilibrado. Menos quando Pereira inocenta Lula. Nesse trechinho,
é confiável. Pura "cosa nostra".
É bom lembrar que foi Lula quem
se disse "traído" pelos companheiros,
justamente por terem feito o que Pereira apenas confirma agora.
Mas, para o PT, traidor não é quem
faz o que a "quadrilha" fez, mas
quem, de suas próprias entranhas, relata fatos que a máfia preferia manter semi-soterrados.
@ - crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: A ERA BLAIR PERTO DO FIM Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Balança, mas não cai Índice
|