São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2006 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Lançamento de ações e ajustes de mercado
ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA
Os registros no primeiro trimestre deste ano já superaram R$ 7 bilhões, e há uma corrida das empresas (principalmente das que já estão no mercado) para processar rapidamente lançamentos, antes de eventuais alterações. Alguns temem que no calor do debate eleitoral, que promete ser desgastante, não haverá clima favorável. Segundo dados divulgados até o final de março, 15 companhias já haviam feito lançamentos ou estavam em processo de fazê-lo. São duas a mais que nos 12 meses de 2005. No mês de abril, três empresas -Duratex, Localiza e Submarino- anunciaram novos lançamentos, sendo que essa última pulverizará seu controle acionário no mercado, como o fez a Renner. E, pelo visto, Embraer e Perdigão seguirão o mesmo modelo. Devido à demanda por novos lançamentos, o Bovespa Mais, que havia sido reservado para empresas de menor porte, não foi inaugurado, pois as aberturas estão acontecendo diretamente no Novo Mercado. Obviamente, a questão da liquidez está no cerne de lançamentos de menor porte, pois passado o momento de euforia, há o risco de não haver liquidez satisfatória, o que afetará forçosamente os preços. Alguns casos de empresas recém-lançadas mostram uma valorização que indica claramente um mercado excessivamente e preocupantemente aquecido. Para citar um caso, lembraríamos a construtora Cyrela Brazil Realty, que mostrou uma valorização de 347% no período de dez meses pós-lançamento. No entanto sua receita líquida no ano de 2005 cresceu 31,35%, o Ebitda, 12,3%, e o lucro líquido, 57,8%, conforme publicado pela Folha. Mesmo considerando a liderança da companhia no mercado em que opera, ainda assim sua valorização é impressionante. Ou o lançamento foi feito com um preço inadequado, ou realmente o mercado está supervalorizando a empresa. Entendemos que no lançamento deva ser deixada certa "gordura" no preço para facilitar a liquidez, mas o que tem acontecido supera essas margens, indicando que os acionistas vendedores estão diluindo desnecessariamente o patrimônio de sua empresa, emitindo um número maior de ações para obter os recursos necessários. A Cyrela foi citada somente como exemplo, mas existiram outras em situação análoga. É o caso da Cosan, Natura, Gol, Gafisa, Company, Rossi Residencial, ALL, Dasa e Totvs. Admite-se que algumas delas, por estarem em setores de alto potencial de crescimento, supostamente, poderiam ser negociados por maiores múltiplos. Duas das ações mais negociadas, e tradicionais "blue chips" do mercado brasileiro, vêm sendo transacionadas a uma relação preço/lucro ou preço/Ebitda bastante inferior, principalmente em relação a algumas das ações do Novo Bovespa. No mês passado, o mercado parece ter feito um reajuste, pois as ações da Cyrela caíram 8%, enquanto Petrobras e Vale apontaram valorização de 8% e 5%. Notamos também que três novos lançamentos -American Bank Note, CSV Card System e BR Agro- não tiveram o mesmo desempenho de outros, anteriores. Isso está indicando um saudável ajuste por parte dos investidores. Salve o mercado! Roberto Teixeira da Costa, 71, economista, é fundador do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) e membro do conselho do Inter-American Dialogue, de Washington. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Yoshiaki Nakano: Mentiras contra o ajuste fiscal Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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