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ONDA CONSERVADORA
No que constitui a mais importante vitória de grupos antiaborto dos EUA, a Câmara americana
aprovou a proibição de um procedimento chamado de aborto por dilatação e extração, ou aborto por ECI
(esvaziamento craniano intra-uterino). Como proposta semelhante já
havia sido aprovada pelo Senado, representantes das duas Casas devem
se reunir para harmonizar os projetos. O presidente George W. Bush já
afirmou que o sancionará, ao contrário de seu antecessor, Bill Clinton,
que vetou iniciativas análogas.
O aborto por ECI, que os críticos
chamam de aborto com nascimento
parcial, é uma técnica quase exclusivamente utilizada para interromper a
gravidez avançada e que represente
grande risco para a mãe. Suas indicações mais comuns são: morte do feto, risco de morte para a mãe, risco
para a saúde da mãe e más formações fetais que inviabilizem a vida extra-uterina. Em casos como esses, o
aborto por ECI não é a única opção
do médico, mas pode ser a mais segura. A alternativa geralmente passa
por uma histerotomia (incisão no
útero para a retirada do feto), que é
uma cirurgia de médio porte, com
todos os riscos correspondentes.
O debate travado no Congresso
americano, porém, tem muito pouco
de técnico. Em termos estritamente
médicos, não haveria razão para limitar o arsenal de procedimentos
disponíveis apenas porque a descrição do aborto por ECI parece especialmente cruenta ao leigo. A questão é na verdade política, e os conservadores estão levando vantagem. O
grau do retrocesso fica claro na comparação com a antiquada legislação
brasileira, na qual um aborto por ECI
com vistas a preservar a saúde da
mãe seria considerado legal.
E essa não é a única iniciativa em
curso para criar novas restrições ao
aborto nos EUA. A questão quase
certamente chegará à Suprema Corte, que 30 anos atrás definiu o aborto
como direito constitucional. Só que,
em sua atual composição, a corte é
mais conservadora do que há três décadas. De todo modo, o direito de
aborto não é a única vítima da onda
conservadora que varre os EUA e da
qual o governo Bush é a síntese.
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