São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

O poder que Dirceu teve

BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, oficializou ontem, em público, a perda de poder do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.
"Zé, nos últimos dias você tem sido, de forma injusta, criticado de forma direta ou indireta, como uma pessoa que não tem se empenhado por questões importantes do governo como o caso do salário mínimo", disse João Paulo para empresários, na presença do chefe da Casa Civil.
Dirceu tem sido bombardeado por pessoas de dentro e de fora do governo. Está enfraquecido. Pode se recuperar. Mas hoje é algo bem distante do poderoso quase primeiro-ministro de um ano atrás.
Dois exemplos do poder que José Dirceu tinha e exercia:
1) cerimonial - desde 9 de março de 1972, prevalecia o decreto 70.274, de Emílio Garrastazu Médici, sobre a ordem de entrada de ministros em cerimônias com o presidente. Os titulares das pastas mais antigas apresentavam-se na frente. Por exemplo, Justiça (o ministério mais longevo), Marinha, Exército etc.
Não estava bom para José Dirceu. No governo Lula, foi publicado um comunicado chamado "Ordem de Precedência dos Ministérios". Está em www.planalto.gov.br. O número um da lista é José Dirceu;
2) poder total - o primeiro documento do governo Lula para os ministérios foi assinado por José Dirceu, em 6 de janeiro de 2003. Era o aviso-circular nš 1, com ordens da Casa Civil: "Não negociar liberação de emendas sem anuência prévia da Casa Civil" e "informar à Casa Civil [sobre] audiências e atendimento de pleitos de parlamentares".
Tudo isso virou história. A pista da armadilha que Dirceu se auto-impunha estava no próprio aviso-circular nš 1. Eis o último parágrafo do documento: "Maiores informações devem ser obtidas junto ao subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz". Seguiam os telefones de Waldomiro. E a assinatura de Dirceu. Deu no que deu.


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