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TRATAMENTO OU PENA
Uma forma interessante de
abordar a questão das drogas é
perguntar se a humanidade um dia
conseguirá livrar-se desse problema.
Se a resposta for não, como sugerem
as evidências, parece despropositado
persistir nas estratégias que enfatizam a repressão e tentar promover a
abstinência universal.
Como observou o juiz Wálter Fanganiello Maierovitch, ex-secretário
nacional antidrogas, em artigo para
esta Folha, todas as políticas tradicionais para impedir a difusão das
drogas vêm falhando há 40 anos.
Nos últimos anos, verifica-se que,
enquanto os EUA insistem nas abordagens repressivas, países da Europa
ocidental vêm apostando no conceito de redução de danos. Em vez de
tentar impedir a todo custo os usuários de drogar-se, tentam diminuir
os riscos associados a essa prática.
O governo FHC vai trilhando a cartilha norte-americana ao adotar a
confusa noção de Justiça Terapêutica. Por esse conceito, uma pessoa
apanhada com drogas ilícitas em
quantidades que não configurem
tráfico pode ser condenada a tratamento médico em vez de cadeia.
A iniciativa denota boas intenções,
mas é um desafio à lógica e a elementares princípios da psiquiatria. Se se
considera a dependência um estado
patológico, não há razões para condenar o doente a nenhuma espécie
de pena. E é quase consenso entre
psiquiatras que qualquer tratamento
que não conte com a adesão do paciente está fadado ao fracasso.
Em vez de desperdiçar recursos públicos com julgamentos ilógicos e terapias que dificilmente terão sucesso, o Brasil deveria começar a preparar uma legislação consistente que se
espelhe no modelo europeu. Decerto
não se pode descriminalizar todas as
drogas da noite para o dia. Mas insistir na Justiça Terapêutica não produz
muito mais do que a superlotação de
clínicas e penitenciárias.
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