São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Renascimento?

SÃO PAULO - Era uma vez um notável sociólogo chamado Fernando Henrique Cardoso, que, inebriado pelo poder, chegou a achar que o mundo todo passava por um novo Renascimento, uma nova idade de ouro.
Giorgio Vasari (1511-1574), considerado o primeiro a cunhar a expressão "rinascita", dela diz: "Quem contemplou a história da arte em sua ascensão e em seu declínio compreenderá mais facilmente o sucesso de seu renascimento e da perfeição a que tem chegado em nossos dias".
Muito bem. Contemplemos, pois, a "perfeição" política dos "nossos dias", ou, mais exatamente, do dia de ontem, conforme traçada pela pesquisa Datafolha a respeito das eleições nos três principais Estados brasileiros.
Há de fato um renascimento. Renasce Paulo Salim Maluf, que, se a eleição fosse agora, eleger-se-ia já no primeiro turno. Renasce Orestes Quércia, que voltaria ao Senado.
Não renasce, mas mantém-se muito vivo Romeu Tuma.
No Rio, não renasce, mas nasce uma senhora chamada Rosinha Mateus, que jamais disputou uma eleição na vida, mas pode, de saída, eleger-se governadora.
Em Minas, ainda tem grandes chances de renascer o vice-governador Newton Cardoso, segundo colocado na pesquisa,dez pontos atrás do tucano Aécio Neves.
Nada contra (nem a favor tampouco) de nenhum dos nomes que marcam esse novo "renascimento". Mas é forçoso reconhecer que todos eles carregam, aos olhos de FHC e da intelectualidade tucana, um defeito imperdoável: ou são populistas, ou são demagogos, ou são pouco responsáveis fiscalmente, ou são tudo isso ao mesmo tempo.
Claro está que seria exagerado culpar Fernando Henrique pelo fato de políticos como os mencionados estarem na bica do renascimento ou da consolidação. A culpa (ou mérito, depende do ponto de vista de cada um) é do público.
Mas os fatos provam que a revolução política prometida pelo tucanato -e que, ainda por cima, teve oito anos para tentar fazê-la- não passou de mais um engodo. Bem-vindos, pois, ao passado.


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