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CLÓVIS ROSSI
Renascimento?
SÃO PAULO - Era uma vez um notável sociólogo chamado Fernando
Henrique Cardoso, que, inebriado
pelo poder, chegou a achar que o
mundo todo passava por um novo
Renascimento, uma nova idade de
ouro.
Giorgio Vasari (1511-1574), considerado o primeiro a cunhar a expressão
"rinascita", dela diz: "Quem contemplou a história da arte em sua ascensão e em seu declínio compreenderá
mais facilmente o sucesso de seu renascimento e da perfeição a que tem
chegado em nossos dias".
Muito bem. Contemplemos, pois, a
"perfeição" política dos "nossos dias",
ou, mais exatamente, do dia de ontem, conforme traçada pela pesquisa
Datafolha a respeito das eleições nos
três principais Estados brasileiros.
Há de fato um renascimento. Renasce Paulo Salim Maluf, que, se a
eleição fosse agora, eleger-se-ia já no
primeiro turno. Renasce Orestes
Quércia, que voltaria ao Senado.
Não renasce, mas mantém-se muito vivo Romeu Tuma.
No Rio, não renasce, mas nasce
uma senhora chamada Rosinha Mateus, que jamais disputou uma eleição na vida, mas pode, de saída, eleger-se governadora.
Em Minas, ainda tem grandes
chances de renascer o vice-governador Newton Cardoso, segundo colocado na pesquisa,dez pontos atrás do
tucano Aécio Neves.
Nada contra (nem a favor tampouco) de nenhum dos nomes que marcam esse novo "renascimento". Mas é
forçoso reconhecer que todos eles carregam, aos olhos de FHC e da intelectualidade tucana, um defeito imperdoável: ou são populistas, ou são demagogos, ou são pouco responsáveis
fiscalmente, ou são tudo isso ao mesmo tempo.
Claro está que seria exagerado culpar Fernando Henrique pelo fato de
políticos como os mencionados estarem na bica do renascimento ou da
consolidação. A culpa (ou mérito, depende do ponto de vista de cada um)
é do público.
Mas os fatos provam que a revolução política prometida pelo tucanato
-e que, ainda por cima, teve oito
anos para tentar fazê-la- não passou de mais um engodo. Bem-vindos,
pois, ao passado.
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