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CARLOS HEITOR CONY
O Wanderley vem aí
RIO DE JANEIRO - Estamos salvos. Pelo menos considero-me salvo. Peguei um congestionamento monstro
perto do morro da Viúva e tive de
aturar a Kombi de um candidato a
vereador aqui no Rio. Uma dessas
Kombis incrementadas, com alto-falantes dirigidos aos quatro pontos
cardeais para melhor aproveitamento do som que ela produzia.
Tomei conhecimento de que o
Wanderley (com w e y) vem aí. E,
vindo, todos os nossos problemas serão resolvidos, creches, condução farta e grátis, postos de saúde em cada
esquina, restaurantes populares em
cada rua, emprego pleno e bem remunerado, áreas de lazer e diminuição da carga horária de trabalho para que a população tenha a oportunidade de se distrair e praticar esportes.
A cara do Wanderley, em enorme
pôster colorido nas laterais da Kombi, pareceu-me honesta e bem-intencionada. Sua voz nem tanto, pois os
alto-falantes estavam em petição de
miséria. Com a voz arranhada, interrompida cada vez que a Kombi
avançava meio metro na pista, fui informado de que o Wanderley já foi
vereador em Barra do Piraí e agora
tenta representar o "sofrido povo da
Baixada Fluminense", segundo ele
"abandonado pelas autoridades desde os tempos de Floriano".
Não tenho condições de concordar
com o candidato ou de discordar dele, mas que diabo, por que logo o Floriano? Antes do Marechal de Ferro a
Baixada era um paraíso?
Minha má vontade ia protestar,
mas acabei me rendendo aos encantos do Wanderley. Uma de suas
idéias era a de impedir propaganda
eleitoral nas vias públicas. Nem som,
nem cartazes, nem passeatas.
Quase saltei do carro e fui pedir informações sobre como votar nele. Sou
eleitor da Lagoa, mas não custa me
mudar para a Baixada Fluminense,
onde terei pior paisagem, mas trânsito melhor.
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