São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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DÍVIDAS EXTERNAS

A proveitando o fluxo de capital externo para o país, atraído pela alta taxa de juro real doméstica (cerca de 14% ao ano), assim como o persistente superávit na balança comercial, o Banco Central voltou a comprar dólares no mercado de câmbio. O BC justificou sua ação no mercado de divisas como uma medida para recompor as reservas internacionais, visando aos futuros compromissos de pagamento da dívida externa. Com o mesmo propósito, o Tesouro também tem realizado operações no mercado de câmbio. Entre 2003 e 2005, adquiriu US$ 26,8 bilhões. Assim, as reservas líquidas do governo (sem empréstimos do FMI) devem fechar o ano em US$ 44 bilhões, bem acima dos US$ 20,5 bilhões de dezembro de 2003.
Setores do governo sinalizam preocupação com efeitos adversos da queda do dólar nas contas externas, sobretudo da possível redução no superávit comercial e, por conseguinte, no saldo em conta corrente, um indicador de solvência do país. O saldo em transações correntes acumulava US$ 12,5 bilhões (1,78% do PIB) em 12 meses até 31 de agosto.
O efeito da valorização do real sobre a inflação, principalmente aquela identificada nos índices gerais de preços (IGP), já foi repassado. Esses índices tiveram cinco meses consecutivos de deflação, diminuindo a "inércia inflacionária" para o próximo ano, pois são os principais indexadores dos preços controlados.
Esse conjunto de indicadores dá ao BC e ao Tesouro a chance de adotar estratégia mais agressiva de compra de dólar no país para conter a valorização do real e usar parte desses recursos para reduzir o endividamento externo público -US$ 110 bilhões em junho de 2005. O aumento das reservas e a queda no estoque de dívida externa poderiam elevar a nota do risco soberano do país atribuída por agências internacionais de risco.
Porém a permanência de um elevado diferencial de juros entre o mercado interno e o externo pode desencadear um novo ciclo de endividamento, sobretudo de empresas que não geram recursos em moeda estrangeira. Entre janeiro e setembro, empresas e o governo tomaram US$ 22 bilhões no exterior, 40% acima do que no mesmo período de 2004. Essa é mais uma razão para o BC acelerar a redução na taxa de juros doméstica para que as empresas possam ampliar seus investimentos em moeda local sem incorrer em risco cambial.

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