São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

É tudo mentira

MADRID - É óbvio que se equivocaram tremendamente os petistas que reproduziram para os jornalistas as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o encontro com parte da bancada do PT.
Nem o mais ferrenho opositor seria capaz de acreditar que o presidente é leviano a ponto de passar atestado de inocência aos parlamentares que estão na fila de cassação.
"Não são corruptos", teria dito Lula. É claro que o presidente sabe que quem utiliza o caixa dois é, sim, corrupto. Se não soubesse, teria aprendido ainda na semana passada com o notável advogado Márcio Thomaz Bastos, de resto seu ministro da Justiça, que chamou de "bandidos" o pessoal do caixa dois.
Como o presidente sabe que os petistas acusados já confessaram o uso de "dinheiro não-contabilizado" (um vício de linguagem típico da malandragem safada), sabe também, por extensão, que são corruptos.
Tanto sabe que disse em rede nacional de TV que havia sido traído. É claro que ninguém poderia pensar que o presidente da República é capaz de dizer uma coisa num dia e outra completamente diferente algum tempo depois.
A menos que os oposicionistas estejam comparando o que Lula dizia quando era oposição com o que passou a fazer e dizer depois que assumiu o governo. Aí, sim, é água e vinho (ou vinho e água, dependendo do gosto de cada um). Mas, sejamos condescendentes: Lula reconheceu que, na oposição, fazia apenas "bravatas". Não era, portanto, para ser levado a sério.
Agora, na Presidência, nem o mais ferrenho oposicionista acreditaria que o presidente não falaria sério. Logo, só pode ser reprodução incorreta o que disseram que Lula disse.
Afinal, o que se espera de um presidente é que diga que seus correligionários são inocentes, não que são iguais aos outros, estes, sim, corruptos, mesmo não sendo caixa dois um ato de corrupção, segundo a infeliz versão de petistas para a fala dele.

crossi@uol.com.br

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