São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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ELIANE CANTANHÊDE

Quem é Lula amanhã?

BRASÍLIA - A reunião com a banca da do PT, na sexta-feira, foi uma tentativa de Lula de pegar o embalo da vitória de Aldo Rebelo na Câmara e mostrar que, apesar de enferrujado, ainda tem a decantada manha política. Bem que ele está precisando.
Embevecido com ele próprio e com suas metáforas, Lula saiu de viagem em viagem, de palanque em palanque. Petistas no governo revelaram-se arrogantes e despreparados. E os do Congresso deixaram de se reconhecer no espelho do partido.
Primeiro, Heloisa Helena puxou o PSOL e vai ser uma pedra no sapato de Lula em 2006. Depois, o mar de lamentações e as duras críticas à economia. Enfim, os escândalos grandes (Marcos Valério) e mesquinhos (Land Rover, os R$ 327 mil do Pizzolato, do BB...). Agora, a bancada dividida ao meio entre Berzoini, candidato do Planalto, e Raul Pont, de oposição, para a presidência do PT.
Jovem, inexperiente e crítica, a bancada foi flagrantemente desprezada tanto por Lula como pelo todo-poderoso Dirceu, muito ocupados em garantir heterodoxamente o PTB, o PP, o PL, o PP. Tudo gente fina.
Mas Lula precisa do PT como o PT precisa de Lula. E ambos devem se lembrar das duras lições do passado: Maria Luiza Fontenele (Fortaleza) foi a primeira prefeita de capital eleita pelo PT; Luiza Erundina, a primeira a ganhar São Paulo; Vitor Buaiz foi governador do Espírito Santo, numa incrível vitória do PT; Cristovam Buarque levou o PT ao governo do Distrito Federal.
Eles entraram para a história com o PT, e o PT fez sua história com eles. Mas nenhum deles, pasme!, está hoje no partido. Pelos vícios de oposição, de sindicalismo, de tendências, de corporativismo, o PT e seus principais quadros não se suportaram ao chegar ao poder.
Que Lula e o PT reflitam. Lula pode ser a Maria Luiza, o Buaiz, a Erundina e o Cristovam amanhã, repetindo, no governo federal, o que ocorreu nos governos municipais e estaduais.
O risco de depender cada vez mais do PMDB é real.

elianec@uol.com.br

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