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CLÓVIS ROSSI
De Rolex e alegria
MONTREUX - Os jornais suíços
não deram uma linha sobre a polêmica em torno do Rolex de Luciano
Huck. Talvez porque roubo de um
relógio nacional (nacional para
eles, claro) não seja grande coisa,
talvez porque esse tipo de crime seja tido como comum em países de
"là-bas".
Mas, em compensação, estão escandalizados com o quebra-quebra
de sábado entre militantes do SVP
(Partido do Povo Suíço), de extrema direita, e um pequeno grupo
anarquista em pleno centro velho
de Berna, patrimônio cultural da
humanidade. Tudo porque o SVP
não esconde seu rechaço aos imigrantes, a ponto de ter usado como
cartaz de campanha três ovelhas
brancas sobre a bandeira suíça e
uma ovelha negra sendo chutada
para fora dela.
A eleição para a qual se preparou
o cartaz será dentro de duas semanas. "Jamais uma campanha eleitoral foi tão agressiva", dizia ontem o
jornal "Le Temps". Agressividade
não parece combinar com Suíça: até
a presidente do Conselho Federal,
Micheline Calmy-Rey, lamenta: "O
ambiente muito duro contradiz a
tradição de paz difundida há séculos pela neutralidade".
Os imigrantes, potenciais vítimas
da xenofobia, não parecem muito
preocupados com os seus, digamos,
Rolex. "Há muito racismo mesmo
por aqui, mas não vai acontecer nada, porque eles precisam de nós", filosofa José Dias, garçom português
com 20 anos de Suíça.
A causa eventual para voltar para
Portugal nem é o SVP, apesar de o
partido já fazer parte da coligação
que governa a Suíça, desde o pleito
anterior. "Aqui, é do trabalho para
casa, da casa do trabalho. Não há
alegria", reclama Fernanda Leite,
três anos na Suíça. Profissão, claro,
garçonete.
Entre perder um Rolex em São
Paulo (ou mesmo um relógio merreca) com um revólver apontado
para a cabeça ou perder a gandaia,
você viveria na Suíça?
crossi@uol.com.br
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