São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O pacto e o amor

SÃO PAULO - É estranho que, apesar de todo o zunzum em torno do pacto social, pouco se tenha falado do modelo mais bem-sucedido nessa matéria. Refiro-me ao caso da Alemanha do pós-guerra, país em que há uma busca quase obsessiva pelo consenso entre governo, empresários e sindicatos.
No macro, é óbvio que deu certo: a Alemanha saiu da guerra arruinada e, hoje, é a terceira economia do planeta e o modelo mais acabado de Estado de bem-estar social entre os países grandes.
No micro, as coisas funcionam assim: no "board" da Volkswagen, símbolo alemão por excelência, têm assento, além dos executivos da companhia, representantes dos sindicatos e até do governo local.
Quando a empresa entrou em crise, há alguns anos, negociou-se à exaustão uma saída, pela qual os trabalhadores teriam reduzida a sua jornada e o salário, mas a redução salarial seria inferior à da jornada. Logo, o pessoal passou até a ganhar mais por hora trabalhada, embora levasse menos dinheiro para casa no fim do mês. Salvaram-se empregos e a companhia logo voltou ao lucro.
Já sei que você aí, cético de plantão (ou realista de plantão, o que, no Brasil, dá na mesma), dirá que Alemanha é Alemanha, Brasil é o que todos sabemos.
É verdade, mas também é verdade que o empresariado tem um instinto básico que é universal: obter o maior lucro possível no menor espaço de tempo possível.
Há duas coisas, não excludentes, que podem refrear essa ganância inata do capital: a força de sua contraparte (o movimento social) e a arbitragem do governo.
Nas condições de temperatura e pressão do Brasil, é pouco provável que o movimento sindical/social tenha força para funcionar como freio. Logo, só resta a arbitragem do governo para determinar perdas e ganhos. Por extensão, o tempo de vida útil de "Lulinha paz e amor" é de apenas 52 dias. Depois, fatalmente, terá que distribuir também desgostos.


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