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CLÓVIS ROSSI
O pacto e o amor
SÃO PAULO - É estranho que, apesar de todo o zunzum em torno do pacto
social, pouco se tenha falado do modelo mais bem-sucedido nessa matéria. Refiro-me ao caso da Alemanha
do pós-guerra, país em que há uma
busca quase obsessiva pelo consenso
entre governo, empresários e sindicatos.
No macro, é óbvio que deu certo: a
Alemanha saiu da guerra arruinada
e, hoje, é a terceira economia do planeta e o modelo mais acabado de Estado de bem-estar social entre os países grandes.
No micro, as coisas funcionam assim: no "board" da Volkswagen, símbolo alemão por excelência, têm assento, além dos executivos da companhia, representantes dos sindicatos e
até do governo local.
Quando a empresa entrou em crise,
há alguns anos, negociou-se à exaustão uma saída, pela qual os trabalhadores teriam reduzida a sua jornada
e o salário, mas a redução salarial seria inferior à da jornada. Logo, o pessoal passou até a ganhar mais por
hora trabalhada, embora levasse menos dinheiro para casa no fim do
mês. Salvaram-se empregos e a companhia logo voltou ao lucro.
Já sei que você aí, cético de plantão
(ou realista de plantão, o que, no
Brasil, dá na mesma), dirá que Alemanha é Alemanha, Brasil é o que
todos sabemos.
É verdade, mas também é verdade
que o empresariado tem um instinto
básico que é universal: obter o maior
lucro possível no menor espaço de
tempo possível.
Há duas coisas, não excludentes,
que podem refrear essa ganância
inata do capital: a força de sua contraparte (o movimento social) e a arbitragem do governo.
Nas condições de temperatura e
pressão do Brasil, é pouco provável
que o movimento sindical/social tenha força para funcionar como freio.
Logo, só resta a arbitragem do governo para determinar perdas e ganhos.
Por extensão, o tempo de vida útil de
"Lulinha paz e amor" é de apenas 52
dias. Depois, fatalmente, terá que distribuir também desgostos.
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