São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

Despolitização

BRASÍLIA - O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, apresentou mais um de seus diagnósticos sobre o Brasil: "Estou convencido de que o problema é mais político do que econômico". Tem razão.
A eleição presidencial é um exemplo. Quantos dos 52.793.364 eleitores que votaram em Lula estavam motivados politicamente? Quantos escolheram o PT de forma consciente porque acreditam nas idéias defendidas por esse partido?
Uma pesquisa divulgada nesta semana arranha o assunto.
Realizada pelo Instituto Sensus a pedido da CNT (Confederação Nacional do Transporte), de 1 a 5 deste mês em todo o país, a pesquisa mostra um grau altíssimo de despolitização no eleitorado. A resposta "gosto dele como pessoa" foi a escolhida para justificar o voto em Lula por 13,7% dos eleitores do petista -o que equivale a 7.232.691 brasileiros.
A pergunta sobre a razão principal do voto em Lula foi estimulada. Não oferecia a opção de o entrevistado revelar se acreditava no ideário petista. Ou se se considerava um eleitor de esquerda. Ainda assim, as respostas dão pistas sobre como o eleitor decidiu seu voto.
Para 34% dos eleitores de Lula (opção mais escolhida), o petista "tem sensibilidade para os problemas". Em segundo lugar como razão principal da vitória do PT, vem a resposta de 22,4% dos eleitores lulistas: "Capacidade para montar boa equipe".
Apenas 12,2% responderam ter escolhido Lula por "ser contra o governo Fernando Henrique". Ou seja, não foi esse exatamente o único problema enfrentado pelo candidato derrotado, o tucano José Serra.
Tudo somado, o petista tem um exército de brasileiros que votou nele por razões mais prosaicas do que alguém poderia imaginar. Se é assim, esse tipo de apoio tende a ser volátil e requer resultados práticos para ser mantido. Eis aí o desafio maior para Lula: depois das reuniões desta fase de transição, mostrar algo concreto no ano que vem. Não será fácil.


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