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FERNANDO RODRIGUES
Despolitização
BRASÍLIA - O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, apresentou
mais um de seus diagnósticos sobre o
Brasil: "Estou convencido de que o
problema é mais político do que econômico". Tem razão.
A eleição presidencial é um exemplo. Quantos dos 52.793.364 eleitores
que votaram em Lula estavam motivados politicamente? Quantos escolheram o PT de forma consciente porque acreditam nas idéias defendidas
por esse partido?
Uma pesquisa divulgada nesta semana arranha o assunto.
Realizada pelo Instituto Sensus a
pedido da CNT (Confederação Nacional do Transporte), de 1 a 5 deste
mês em todo o país, a pesquisa mostra um grau altíssimo de despolitização no eleitorado. A resposta "gosto
dele como pessoa" foi a escolhida para justificar o voto em Lula por 13,7%
dos eleitores do petista -o que equivale a 7.232.691 brasileiros.
A pergunta sobre a razão principal
do voto em Lula foi estimulada. Não
oferecia a opção de o entrevistado revelar se acreditava no ideário petista.
Ou se se considerava um eleitor de esquerda. Ainda assim, as respostas
dão pistas sobre como o eleitor decidiu seu voto.
Para 34% dos eleitores de Lula (opção mais escolhida), o petista "tem
sensibilidade para os problemas".
Em segundo lugar como razão principal da vitória do PT, vem a resposta
de 22,4% dos eleitores lulistas: "Capacidade para montar boa equipe".
Apenas 12,2% responderam ter escolhido Lula por "ser contra o governo Fernando Henrique". Ou seja,
não foi esse exatamente o único problema enfrentado pelo candidato
derrotado, o tucano José Serra.
Tudo somado, o petista tem um
exército de brasileiros que votou nele
por razões mais prosaicas do que alguém poderia imaginar. Se é assim,
esse tipo de apoio tende a ser volátil e
requer resultados práticos para ser
mantido. Eis aí o desafio maior para
Lula: depois das reuniões desta fase
de transição, mostrar algo concreto
no ano que vem. Não será fácil.
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