São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

O sargento Barros

RIO DE JANEIRO - As perspectivas para 2003, em que pesem as esperanças que depositamos todos no governo de Lula, ao contrário de poucas e boas, prometem muitas e más. O programa por ele anunciado é bom, suas intenções, ótimas, sua vontade de acertar, comovente. Mas a tal da conjuntura mundial não sopra a favor de uma retomada do nosso desenvolvimento social e econômico.
O presidente Bush saiu fortalecido nas recentes eleições norte-americano, já tem o aval do Congresso para agir militarmente onde quer que se faça necessário o uso da força para combater o terrorismo.
No fundo, é um eufemismo que está sendo aceito por outros países. O que temos no cenário internacional é o confronto de dois fundamentalismos, o religioso, que considera os Estados Unidos a encarnação bem-sucedida de Satã, e o próprio fundamentalismo norte-americano, que mais cedo ou mais tarde invocará o tradicional limite do maniqueísmo de todas as épocas e latitudes: quem não é por mim é contra mim.
Como o Brasil, que vive merecida lua-de-mel com um grupo de esquerda no poder, com um líder carismático e comprometido com as causas mais nobres do povo brasileiro, poderá enfrentar as pressões internacionais que o colocarão no dilema: fechar com a política de Bush ou combatê-la?
Sabe-se que a Casa Branca, como os sargentos de tropa nos exércitos de todo o mundo, "não permitirão tergiversações outras" -estou citando o sargento Barros, do CPOR do Rio, que nos dava ordem unida e que gostava de falar difícil, achando que "tergiversação" fosse o máximo.
Foi bom lembrar o sargento Barros. Era parecido com Bush, apenas com um bigode aparadinho e glostora no cabelo. Nunca mais o vi, mas me lembro dele toda a vez que vejo Bush na TV.
Como bom sargento de infantaria, era inofensivo, pois vivia tempos de paz. Volta e meia eu procurava imaginar como seria o sargento Barros numa guerra de verdade, não permitindo tergiversações outras.


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