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CARLOS HEITOR CONY
O sargento Barros
RIO DE JANEIRO - As perspectivas para 2003, em que pesem as esperanças que depositamos todos no governo de Lula, ao contrário de poucas e
boas, prometem muitas e más. O programa por ele anunciado é bom, suas
intenções, ótimas, sua vontade de
acertar, comovente. Mas a tal da conjuntura mundial não sopra a favor
de uma retomada do nosso desenvolvimento social e econômico.
O presidente Bush saiu fortalecido
nas recentes eleições norte-americano, já tem o aval do Congresso para
agir militarmente onde quer que se
faça necessário o uso da força para
combater o terrorismo.
No fundo, é um eufemismo que está
sendo aceito por outros países. O que
temos no cenário internacional é o
confronto de dois fundamentalismos,
o religioso, que considera os Estados
Unidos a encarnação bem-sucedida
de Satã, e o próprio fundamentalismo norte-americano, que mais cedo
ou mais tarde invocará o tradicional
limite do maniqueísmo de todas as
épocas e latitudes: quem não é por
mim é contra mim.
Como o Brasil, que vive merecida
lua-de-mel com um grupo de esquerda no poder, com um líder carismático e comprometido com as causas
mais nobres do povo brasileiro, poderá enfrentar as pressões internacionais que o colocarão no dilema: fechar com a política de Bush ou combatê-la?
Sabe-se que a Casa Branca, como os
sargentos de tropa nos exércitos de
todo o mundo, "não permitirão tergiversações outras" -estou citando o
sargento Barros, do CPOR do Rio,
que nos dava ordem unida e que gostava de falar difícil, achando que
"tergiversação" fosse o máximo.
Foi bom lembrar o sargento Barros.
Era parecido com Bush, apenas com
um bigode aparadinho e glostora no
cabelo. Nunca mais o vi, mas me lembro dele toda a vez que vejo Bush na
TV.
Como bom sargento de infantaria,
era inofensivo, pois vivia tempos de
paz. Volta e meia eu procurava imaginar como seria o sargento Barros
numa guerra de verdade, não permitindo tergiversações outras.
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