UOL




São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

A África é uma África

PRETÓRIA - A África é um continente com milhões de miseráveis, prejudicado por colonizadores insaciáveis, devastado por sucessivas guerras fratricidas e ameaçado pela Aids.
Mas a África é também um continente muito promissor, deitado em petróleo, diamante, zinco, alumínio. Além de ter um povo muito particular, uma rica cultura. A música e o artesanato estão em toda parte.
Os pragmáticos de antes diziam que investir na África seria um gesto puramente humanitário, inútil. Os neopragmáticos do PT vêem diferentemente: investir energia, diplomacia, política e comércio ali pode ser um grande negócio. Além de continuar tendo o aspecto humanitário.
Olhar a África e aproximar-se dela é tentar entender o mundo como mundo, além das fronteiras da América Latina e acima dos Estados Unidos. É, em outras palavras, estratégico. Ou uma decisão geopolítica.
Visionários como o embaixador Ítalo Zappa conseguiram ver, ainda na década de 70, no governo militar, as similaridades e potencialidades. Agora é recuperar o tempo perdido.
A política brasileira para a África passa por um mergulho assistencialista, intensa cooperação científica e tecnológica e facilidades para o comércio. Mas isso tem contrapartida.
Num mundo unipolar, com os EUA sentados hegemonicamente no seu poderio econômico, político e militar, negociar cara a cara com quem quer que seja é sempre um risco. Sem negociação conjunta, ninguém vai a lugar nenhum. E a desigualdade entre regiões, países, Estados e cidades nunca vai mudar.
Tão ortodoxo na política, na economia e no social, o governo só tem uma trincheira realmente de esquerda: a política externa. O grito de guerra de Lula na África ao longo da semana foi simples: "Pobres do mundo, uni-vos!".
Mas o grito não ficou no ar. Foram mais de 40 acordos em várias áreas, e há todo um empenho para que papéis não sejam só mais papéis. E que a África não seja uma África para sempre. Até porque o segredo é este: a África também é aí, no Brasil.



Texto Anterior: São Paulo - Vinicius Torres Freire: Picanha, suor e cerveja
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Nosso grande irmão
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.