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FERNANDO DE BARROS E SILVA
O "caso Mayara"
SÃO PAULO - "Nordestino não é
gente, faça um favor a SP, mate um
nordestino afogado!". A mensagem
é muito repulsiva e precisava ser
combatida. Sobre isso, não paira
nenhuma dúvida. Há, porém, várias maneiras de condenar um ato.
Incomoda-me, de um lado, que a
primeira reação seja a de ir à Justiça
para punir a jovem. Não porque a tipificação do crime que se atribui à
estudante Mayara Petruso seja tecnicamente complicada. Incomoda-me, antes, nossa inclinação quase
automática para transformar um
problema social num caso de polícia. Isso evidencia como ainda nos
falta cultura política democrática.
Basta um giro pela internet para
encontrar os piores tipos de insultos contra Mayara. Isso quer dizer
que a sociedade decidiu dizer a essa
"$?%#@&!" que não aceita mais
comportamentos desse tipo? Ou
significa que a sociedade reproduz,
na sua ira punitiva, ao menos parte
do comportamento autoritário que
repudia na jovem? Penso que as
duas coisas misturadas.
Há outros aspectos. A internet
-e o Twitter em particular- está
dando publicidade a comportamentos que só tinham vigência no
âmbito da vida pessoal de cada um.
Assim como muitos expõem sua vida privada à visitação coletiva sem
nenhum receio do ridículo, vários
preconceitos também estão se tornando visíveis nas redes sociais.
Talvez seja positivo que as barbaridades que as pessoas dizem no escritório, no clube ou no bar, só entre amigos, possam agora ser objeto
de discussão pública, mesmo que
isso possa nos virar o estômago ou
levar à conclusão de que, definitivamente, o inferno são os outros.
Certos meios sociais do Sul e do
Sudeste alimentam antigo preconceito contra nordestinos. O governo
Lula, pelo que representou, fez recrudescer os aspectos mais odiosos
desse tipo de mentalidade protofascista, felizmente minoritária. O início do resgate da dívida social do
Nordeste e o protagonismo político
da região representam um passo
importante para civilizar o Brasil.
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