São Paulo, Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999
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LIÇÕES ASIÁTICAS

Tem sido frequente a tentativa, por parte de analistas econômicos, de tirar do ajuste à crise na Ásia os elementos norteadores do ajuste brasileiro. Em favor dessa abordagem comparativa está a semelhança entre processos que a literatura acadêmica classifica como "overshooting".
Abandonada uma política cambial suspeita, tendem a ocorrer movimentos de desvalorização exagerada. Em vários casos, passado o descontrole inicial (que duraria entre três e seis meses), a taxa de desvalorização recuou para patamares razoáveis.
Há nesse tipo de comparação bons motivos para consolo e, mais que nunca, eles agora parecem necessários. O dólar continua valendo demais no Brasil, ou seja, a desvalorização do real acumulada até agora ainda é considerada exagerada.
Para muitos, um dólar a R$ 1,50 ou R$ 1,60, sancionando uma desvalorização da ordem de 30%, seria algo aceitável e mesmo desejável.
O risco da comparação com a Ásia decorre da crença infundada de que os sistemas de preços, neles incluída a taxa de câmbio, são fenômenos naturais, sujeitos a leis tão inevitáveis quanto a lei da gravidade. Ou talvez regidos por princípios consagrados em ditos populares, do tipo "quanto maior a subida, maior o tombo". Mais arriscado ainda é acreditar que, sendo assim, basta esperar estoicamente que a situação se normalize.
O exame mais detalhado da experiência da Ásia revela um quadro muito mais complexo: a Coréia do Sul obteve resultados forçando a renegociação de sua dívida externa. Na Indonésia e na China, o regime cambial continua uma questão em aberto. Sem esquecer a Malásia, que adotou controles sobre a saída de capitais e, agora, cerca de sete meses depois, volta à rota da liberalização.
A Ásia, ou melhor, suas diversas experiências de ajuste, pouco podem ensinar ao Brasil. Se uma lição há nessa comparação, ela consiste em entender que os ajustes a novas políticas de câmbio não são automáticos nem seguem uma receita universal.


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