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"No vá más"
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - De George Soros ao FMI,
de Fernando Henrique Cardoso a Pedro Malan, todos os supostos ou reais
peritos vêm dizendo que o real está
subvalorizado, a rigor desde que o dólar ultrapassou a barreira de R$ 1,60.
Não obstante, nem o real nem o dólar levam a sério tal avaliação, tanto
que o primeiro continua caindo, e o
segundo, subindo.
Chovem "explicações". Num dia, é
porque havia boatos de que seria decretado feriado bancário, confisco, o
diabo. No outro dia, porque o Banco
Central ficou inerme, olhando as cotações dispararem. No terceiro dia, porque se descobriu que há uma concentração importante de vencimento de
títulos externos em fevereiro.
Amanhã, a culpa será do fracasso do
Corinthians no Rio-São Paulo. Depois
de amanhã, do fato de a inefável
Mangueira não ter conseguido o bicampeonato no desfile das escolas de
samba do Rio de Janeiro.
Quando surgirá alguém com coragem e honestidade intelectual para dizer que tudo isso não passa de um tremendo cassino e que, como em todo
cassino, não é preciso buscar explicações lógicas? Basta a cupidez.
Aliás, a comparação é até ofensiva
aos cassinos honestos, como depõe
George Soros, que dessas coisas entende mais que FHC, Malan e o FMI juntos. "É pior que cassino. Afinal, cassinos têm regras", disse Soros, faz um
ano, na presença, aliás, de FHC.
Pode até ser que o real se recupere
algo hoje ou amanhã, na semana que
vem, em março ou algum dia. Seu derretimento terá, de todo modo, deixado
atrás um país exangue, levado à anemia profunda por juros obscenamente
altos e aterrorizado pela disparada de
preços, em muitos casos produto também da cultura de cassino.
O governo FHC pode ficar olhando e
torcendo para que a chamada mão invisível do mercado conduza o dólar a
um valor aceitável. Pena. Se aceitasse
a realidade como ela é, gritaria, como
todo bom crupiê: "No vá más".
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