São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003 |
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ELIANE CANTANHÊDE Subúrbio de Washington
BRASÍLIA - A guerra de Bush começou, durou três semanas, está acabando e... cadê as armas químicas e
biológicas de Saddam Hussein?
Ou o ditador não quis usá-las porque é um santo, desmentindo todas
as atrocidades atribuídas a ele, ou,
simplesmente, não havia nenhuma
arma de destruição em massa. O pretexto dos EUA foi uma balela.
Agora, com Bagdá evidentemente
ocupada e as estátuas do ditador ao
chão, a hora é de olhar para o futuro.
E ele é tão ou mais preocupante do
que a própria guerra. Guerra civil?
Hoje, certamente, os jornais dos
EUA estarão estampando fotos fechadas de bandeiras americanas tremulando na capital e de iraquianos
comemorando a vitória de Bush. Mas
as imagens abertas de tevês independentes mostram uma realidade diferente: apenas uns gatos pingados,
cercados de fotógrafos, efetivamente
festejavam a ocupação. Cadê os 5 milhões de habitantes de Bagdá?
Reação aos Exércitos e soldados invasores não houve, ou foi pouca. Porque não havia armamento, preparação, estratégia. O poderio bélico do
Iraque, que poderia destruir o mundo, revelou-se um traque. A sensação
(a conferir) é de que coalizão matou
mais americanos do que armas e homens de Saddam conseguiram.
Era irritante ver Bush convocando
o apoio dos cidadãos dos EUA e do
mundo para a sua guerra particular.
E é horripilante, agora, ver também
pela TV os americanos loteando os
cargos iraquianos. O general fulano,
aposentado, vai ser interventor na
capital, o comandante beltrano vai
assumir o sul, e o sicrano, o norte. O
Iraque virou subúrbio de Washington sob o pretexto de eliminar armas
que não havia e de "salvar" um povo
que tem outras religiões e crenças,
outra cultura.
E se esse povo -do Iraque e de sua
vizinhança árabe- não quisesse ser
salvo por cristãos ocidentais? E se surgirem "cem Bin Laden", como prevê
o egípcio Hosni Mubarak? |
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