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São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Palpite infeliz

RIO DE JANEIRO - Um lugar-comum na mídia (cheia de lugares-comuns, tanto mais comum, melhor) foi o pretexto para que alguns colegas de profissão me telefonassem pedindo minha opinião sobre os cem primeiros dias do governo Lula.
Delicadamente, afastei a seringa, dizendo que não tenho opinião sobre nada, volta e meia dou um palpite, no mais das vezes infeliz, como aquele do Noel Rosa na famosa polêmica musical com o Wilson Batista.
Por palpites assim, fui parar na cadeia seis vezes e, volta e meia, por ser contra o governo (fui contra todos os governos desde o dia em que na rua Lins e Vasconcelos me botaram neste mundo), sou até chamado de "viúva de FHC" por achar o Fome Zero uma besteira.
A aprovação popular de Lula continua alta, e isso é o que conta. O povo, ou melhor, o povão, que é muito mais do que um simples aumentativo da palavra povo, continua confiando nele e, embora eu não tenha votado em nenhum candidato nesta última eleição presidencial, acho que ele está se saindo muito bem, com exceção da desastrada idéia do Fome Zero -que ele não mencionou uma só vez nas quatro campanhas que disputou.
Evidentemente que todos os candidatos, de vereador a presidente da República, prometem comida no prato e na barriga dos eleitores. Mas o Fome Zero, como idéia, foi uma jogada de marketing desnecessária para quem já tinha lugar na mídia desde os tempos das greves do ABC. E, como realização de governo, está tropeçando, criando mais problemas do que soluções.
Afora isso, e repetindo que cem dias é pouco para julgar um mandato de quatro anos, acho que Lula está se saindo bem, fazendo o que pode para conter os radicais de seu partido. E, dentro das circunstâncias que herdou do governo passado, procurando corrigir as prioridades do neoliberalismo, voltando-as para o campo social, em que o nosso déficit é bem maior do que o déficit econômico.


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