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CARLOS HEITOR CONY
Palpite infeliz
RIO DE JANEIRO - Um lugar-comum na mídia (cheia de lugares-comuns,
tanto mais comum, melhor) foi o pretexto para que alguns colegas de profissão me telefonassem pedindo minha opinião sobre os cem primeiros
dias do governo Lula.
Delicadamente, afastei a seringa,
dizendo que não tenho opinião sobre
nada, volta e meia dou um palpite,
no mais das vezes infeliz, como aquele do Noel Rosa na famosa polêmica
musical com o Wilson Batista.
Por palpites assim, fui parar na cadeia seis vezes e, volta e meia, por ser
contra o governo (fui contra todos os
governos desde o dia em que na rua
Lins e Vasconcelos me botaram neste
mundo), sou até chamado de "viúva
de FHC" por achar o Fome Zero uma
besteira.
A aprovação popular de Lula continua alta, e isso é o que conta. O povo,
ou melhor, o povão, que é muito mais
do que um simples aumentativo da
palavra povo, continua confiando
nele e, embora eu não tenha votado
em nenhum candidato nesta última
eleição presidencial, acho que ele está
se saindo muito bem, com exceção da
desastrada idéia do Fome Zero
-que ele não mencionou uma só vez
nas quatro campanhas que disputou.
Evidentemente que todos os candidatos, de vereador a presidente da
República, prometem comida no prato e na barriga dos eleitores. Mas o
Fome Zero, como idéia, foi uma jogada de marketing desnecessária para
quem já tinha lugar na mídia desde
os tempos das greves do ABC. E, como realização de governo, está tropeçando, criando mais problemas do
que soluções.
Afora isso, e repetindo que cem dias
é pouco para julgar um mandato de
quatro anos, acho que Lula está se
saindo bem, fazendo o que pode para
conter os radicais de seu partido. E,
dentro das circunstâncias que herdou do governo passado, procurando
corrigir as prioridades do neoliberalismo, voltando-as para o campo social, em que o nosso déficit é bem
maior do que o déficit econômico.
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