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ELIANE CANTANHÊDE
A conta não fecha
NOVA DÉLI - Falar em Brics, o
grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China, remete para países de
grandes dimensões, populações gigantescas e rápidos processos de
desenvolvimento. São os "emergentes", que deslancham suas economias e exigem maior participação e poder político. Daí o G20.
O problema é sair dos números e
cair na real. Na Índia, economia, informática, ciência e tecnologia,
energia nuclear e sólida aliança
com os EUA são atestados do estonteante crescimento econômico,
mas nada chegou ainda ao cidadão
-às pessoas que se amontoam com
roupas sujas e olhar perdido em
ônibus velhos num dos piores trânsitos do mundo, nem às multidões
que pulam desesperadas e fedidas
sobre os turistas para vender qualquer coisa por qualquer dinheiro.
Já no aeroporto, fica evidente
que Nova Déli é congestionada e
caótica. As exceções de praxe são os
setores arborizados e limpos onde
vivem ou trabalham altos funcionários e diplomatas estrangeiros.
Soldados e policiais com fardas
mal ajambradas e curiosas espingardas estão por toda a parte, e a revista de pessoas, bolsas e porta-malas é rotina. O pretexto é o medo de
atentados de terroristas do vizinho
Paquistão, como no início do ano. A
sensação, porém, é que o risco não
vem de fora, mas de dentro. A explosão social parece iminente, pela
miséria da população (que passa de
1 bilhão, como na China) e apesar da
passividade da divisão em castas.
O PIB do Brasil e da Rússia está
em torno de US$ 1,3 tri cada um; o
da Índia, de US$ 1,1 tri; a China saiu
de US$ 3,3 tri em 2007 e desbancou
a Alemanha como terceira economia mundial. Mas, para nós, os leigos, que olhamos pessoas e cidades
além dos números e cifras, ainda
falta muito para um encontro de
contas entre o crescimento pujante
dos países e o bem-estar mínimo
dos seus cidadãos. Na capital da Índia e arredores, isso parece particularmente sufocante.
elianec@uol.com.br
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