RIO DE JANEIRO - O desabafo de Garotinho, admitindo que a violência no Rio de Janeiro está fora de controle, apesar de óbvio, parece que chocou a sociedade, a mídia e a própria governadora Rosinha, que atenuou a declaração do marido e secretário, forçando-o a amenizar a declaração.
Uma das mais absurdas e hipócritas tradições do poder é absorver uma semântica irreal, otimista e desinformada. Há o exemplo do PT, que, durante os anos em que exerceu a oposição mais organizada aos sucessivos governos do país, da noite para o dia passou a ver uma realidade cor-de-rosa, justificando até certo ponto a mudança de sua bandeira e de sua estrela, que continuam vermelhas, mas logo logo deverão ser amaciadas para um tom mais ameno, menos agressivo.
Garotinho disse em poucas palavras o que todos sentimos e vemos diariamente: o Estado faliu. E, quando falo em Estado, não estou me referindo aos governos atuais, seja o federal, seja o estadual, seja o municipal. Falo na concepção do Estado como guarda, garantia e símbolo da sociedade.
O setor da segurança, por envolver a todos, ricos, pobres e remediados, é o mais visível e o mais difícil de solucionar, pois as causas estão obscuras, embora simplificadas na expressão/ ônibus "tráfico". Já é hora de admitirmos que a onda de crimes transcende o esquema simplista dos traficantes.
Pode ser que nem mesmo o pessoal do tráfico tenha consciência do que está fazendo, mas, a pretexto de garantir o ofício criminoso, recebendo, distribuindo e protegendo a droga, está penetrando num patamar mais sociológico do que policial.
É evidente que o primeiro combate está agora nas mãos do casal Rosinha-Garotinho. Mas o problema da violência urbana numa cidade com as características emblemáticas do Rio escapa da rubrica "segurança". E está realmente fora de controle.


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