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São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2003

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VALDO CRUZ

Cem reais

BRASÍLIA - A oposição ao governo Lula promete fazer barulho na fase de teste das reformas tributária e previdenciária, quando começa a ser analisado o conteúdo das propostas nas comissões especiais. Pefelistas e tucanos até acreditam que venham a conseguir mudar algo aqui, algo ali. Mas já contam com a aprovação das duas reformas praticamente do jeito que o PT quer. Por quê? Resposta em uma só palavra: retaliação. Aí, por sinal, deve estar uma das diferenças -poucas, é verdade- entre o governo Lula e o de Fernando Henrique Cardoso. O tucano até que ameaçava cortar cargos e verbas. Mas dificilmente retaliava os aliados que o traíam no Congresso. Que o diga o senador Antonio Carlos Magalhães. Na administração Lula, a sensação é que tudo será diferente. Quem trair o governo e votar contra as reformas dança. Quem for fiel leva. Tudo num estilo bem profissional, que impressionou os pefelistas. É por isso que a cúpula petista não está muito preocupada com aquele grupo de 30 deputados do partido que ensaiam um grito de independência. Vão ficar só no discurso. Por quê? Resposta de um membro da cúpula do governo: "Porque estão até a cabeça no governo, todos com cargos e verbas. No ano que vem, tem eleição. Fora os Babás da vida, que são uns três, ninguém no PT vai rasgar nota de cem reais". Um governista, com certeza, não se amedronta nem um pouco com ameaças de retaliação -o vice-presidente, José Alencar. Afinal, ele pode rasgar milhares de notas de cem reais que ainda irão sobrar milhões.
 
Aos que o criticam, o PT se defende dizendo que o país vive pedindo fidelidade partidária, mas, quando o partido decide aplicá-la, é acusado de não tolerar pensamento contrário.
Aí está outra diferença entre o governo Lula e o tucano. FHC era bem mais tolerante. Talvez por isso não retaliasse. Questão de estilo. Qual funciona melhor? Veremos.


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