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A leveza de Gustavo Franco
FERNANDO RODRIGUES
Brasília - Se o Congresso quiser demonstrar alguma independência em
relação ao Poder Executivo, mais uma
oportunidade está dada. Basta convocar o presidente do Banco Central,
Gustavo Franco, para ele explicar suas
declarações irresponsáveis de anteontem, na Suíça.
Não que esse senhor tenha dito algo
de novo. Muito pelo contrário. Falou o
óbvio. Repetiu o dito a toda hora pelos
alcoviteiros dessa entidade anônima
chamada "mercado".
Franco afirmou que o resultado da
eleição presidencial vai influir no volume de dinheiro estrangeiro entrando ou saindo do Brasil. Eis uma frase
sua, registrada ontem em "O Globo":
"A preocupação quanto à continuidade do rumo econômico, de fato, existe.
Isso não há como negar. Todo mundo
no exterior assistiu às eleições anteriores e o tipo de discussão que houve. Se
o presidente for reeleito, evidentemente, a continuidade está assegurada".
O funcionário de FHC sugere, portanto, que num eventual governo de
Luiz Inácio Lula da Silva serão quebrados os pactos econômicos existentes hoje no país.
Que as torcidas do Flamengo e do
Corinthians pensem assim, tudo bem.
Podem até cantar nas arquibancadas
dos estádios de futebol algum refrão
com rima pobre do tipo "Se Lula for
eleito, o Brasil será desfeito".
Mas não cabe a um presidente do
Banco Central do Brasil sair por aí fomentando tal inferência ou desejo.
Essa atividade à qual Gustavo Franco se lança com vigor a cada eleição
tem um nome: é terrorismo político. O
presidente do BC -cujo salário é custeado com o imposto pago por você,
leitor- está usando o poder do cargo
para ajudar seu chefe, FHC.
Como se não bastasse, Franco emitiu
outra daquelas previsões oligofrênicas
típicas da área econômica. Disse que a
reeleição de FHC garante a continuidade da atual política econômica. Garante como, cara pálida?
Com a dívida do governo nos cornos
da lua, qualquer turbulência externa
pode levar o país à bancarrota, não
importando o presidente. Mas essa
análise nunca aparecerá na leveza das
declarações de Gustavo Franco.
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