São Paulo, quarta, 10 de junho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A leveza de Gustavo Franco

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Se o Congresso quiser demonstrar alguma independência em relação ao Poder Executivo, mais uma oportunidade está dada. Basta convocar o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, para ele explicar suas declarações irresponsáveis de anteontem, na Suíça.
Não que esse senhor tenha dito algo de novo. Muito pelo contrário. Falou o óbvio. Repetiu o dito a toda hora pelos alcoviteiros dessa entidade anônima chamada "mercado".
Franco afirmou que o resultado da eleição presidencial vai influir no volume de dinheiro estrangeiro entrando ou saindo do Brasil. Eis uma frase sua, registrada ontem em "O Globo": "A preocupação quanto à continuidade do rumo econômico, de fato, existe. Isso não há como negar. Todo mundo no exterior assistiu às eleições anteriores e o tipo de discussão que houve. Se o presidente for reeleito, evidentemente, a continuidade está assegurada".
O funcionário de FHC sugere, portanto, que num eventual governo de Luiz Inácio Lula da Silva serão quebrados os pactos econômicos existentes hoje no país.
Que as torcidas do Flamengo e do Corinthians pensem assim, tudo bem. Podem até cantar nas arquibancadas dos estádios de futebol algum refrão com rima pobre do tipo "Se Lula for eleito, o Brasil será desfeito".
Mas não cabe a um presidente do Banco Central do Brasil sair por aí fomentando tal inferência ou desejo.
Essa atividade à qual Gustavo Franco se lança com vigor a cada eleição tem um nome: é terrorismo político. O presidente do BC -cujo salário é custeado com o imposto pago por você, leitor- está usando o poder do cargo para ajudar seu chefe, FHC.
Como se não bastasse, Franco emitiu outra daquelas previsões oligofrênicas típicas da área econômica. Disse que a reeleição de FHC garante a continuidade da atual política econômica. Garante como, cara pálida?
Com a dívida do governo nos cornos da lua, qualquer turbulência externa pode levar o país à bancarrota, não importando o presidente. Mas essa análise nunca aparecerá na leveza das declarações de Gustavo Franco.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.