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Estratégia burra
LUIZ CAVERSAN
Rio de Janeiro - Pela terceira vez em
duas semanas, estudantes do Rio de
Janeiro resolvem atazanar a vida da
cidade com o alegado objetivo de chamar a atenção da população para os
graves problemas que afligem o ensino
no país.
De fato, os jovens têm conseguido
atrair a atenção das pessoas. Assim
como têm conseguido gerar raiva, desconforto, prejuízo, perda de tempo e
outros desgastes nas centenas de ocupantes dos veículos que ficam presos
nas ruas cujo tráfego eles interditam
com suas festivas passeatas.
Estratégia burra, essa, que poderia
ser atribuída à pouca experiência ou
mesmo à ingenuidade de jovens inconformados que buscam externar
sua indignação contra o que consideram estar errado no sistema educacional do país.
Ou será que a garotada tem alguma
esperança de que os motoristas dos
carros ou os passageiros dos ônibus
vão deixar os veículos bloqueados e
aderir ao protesto? Com certeza levarão para casa não as palavras de ordem dos estudantes, mas o tempo perdido e a irritação com a bagunça.
Esse tipo de manifestação é coisa rara hoje em dia. Por dois motivos básicos. As categorias profissionais mais
organizadas, que costumavam bloquear ruas em atos desse tipo, perceberam o efeito bumerangue de sua atitude: atraíam sempre mais repulsa do
que solidariedade.
O outro motivo é que as autoridades
de trânsito normalmente não permitem mais que um número imenso de
pessoas seja prejudicado porque um
grupo menor -com ou sem razão,
não vem ao caso- resolveu protestar.
No entanto, ontem, mais uma vez, os
estudantes ocuparam as ruas, atrapalharam o trânsito e o cotidiano de
centenas de cidadãos, obviamente sem
benefício para ninguém, tampouco
para o depauperado ensino público.
Ao contrário de outros Estados, como São Paulo, Minas e Rio Grande do
Sul, a Justiça do Rio não funciona hoje. Ponto facultativo em todas as repartições judiciárias por causa do jogo
do Brasil.
Ou seja, aqui, a Justiça tarda, falha,
mas torce.
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