São Paulo, quarta, 10 de junho de 1998

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Estratégia burra

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Pela terceira vez em duas semanas, estudantes do Rio de Janeiro resolvem atazanar a vida da cidade com o alegado objetivo de chamar a atenção da população para os graves problemas que afligem o ensino no país.
De fato, os jovens têm conseguido atrair a atenção das pessoas. Assim como têm conseguido gerar raiva, desconforto, prejuízo, perda de tempo e outros desgastes nas centenas de ocupantes dos veículos que ficam presos nas ruas cujo tráfego eles interditam com suas festivas passeatas.
Estratégia burra, essa, que poderia ser atribuída à pouca experiência ou mesmo à ingenuidade de jovens inconformados que buscam externar sua indignação contra o que consideram estar errado no sistema educacional do país.
Ou será que a garotada tem alguma esperança de que os motoristas dos carros ou os passageiros dos ônibus vão deixar os veículos bloqueados e aderir ao protesto? Com certeza levarão para casa não as palavras de ordem dos estudantes, mas o tempo perdido e a irritação com a bagunça.
Esse tipo de manifestação é coisa rara hoje em dia. Por dois motivos básicos. As categorias profissionais mais organizadas, que costumavam bloquear ruas em atos desse tipo, perceberam o efeito bumerangue de sua atitude: atraíam sempre mais repulsa do que solidariedade.
O outro motivo é que as autoridades de trânsito normalmente não permitem mais que um número imenso de pessoas seja prejudicado porque um grupo menor -com ou sem razão, não vem ao caso- resolveu protestar.
No entanto, ontem, mais uma vez, os estudantes ocuparam as ruas, atrapalharam o trânsito e o cotidiano de centenas de cidadãos, obviamente sem benefício para ninguém, tampouco para o depauperado ensino público.

Ao contrário de outros Estados, como São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul, a Justiça do Rio não funciona hoje. Ponto facultativo em todas as repartições judiciárias por causa do jogo do Brasil.
Ou seja, aqui, a Justiça tarda, falha, mas torce.



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