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VINICIUS MOTA
Governar é construir presídios
SÃO PAULO - Balbinos, pacata cidade na região central do Estado de
São Paulo, encerrou 2005 com
1.339 habitantes. A inauguração de
duas penitenciárias, em 3 de março
deste ano, deu início a uma nova era
na cidadezinha. As cifras mais atualizadas dão conta de que o município já abriga 1.758 presos -mais
gente atrás das grades do que livre.
O ritmo frenético de construção
de presídios adotado pelo governo
paulista nos últimos anos vai mudando a feição do interior. Basta
viajar pelas boas estradas do Estado
para encontrar a inconfundível arquitetura "prisional" nas mais diversas e inusitadas paragens. Os nomes falam por si: há cadeias novíssimas em Iaras, Pracinha, Irapuru,
Flórida Paulista, Álvaro de Carvalho, Avanhandava, Lucélia, Potim,
entre muitas outras localidades
com população diminuta.
Trabalho de Sísifo. Só para manter onde está o déficit de vagas nas
penitenciárias (de pelo menos 30
mil), o governo paulista teria de
inaugurar no mínimo uma penitenciária "compacta" (768 vagas) a cada mês. Se a polícia melhorar, como
é do nosso desejo, a esquálida taxa
de resolução dos crimes mais graves, então o ritmo de construção de
presídios terá de ser maior. De cada
10 mil paulistas, 35 estão presos. A
taxa é alta para o Brasil, mas ainda
pode crescer muito -a norte-americana, por exemplo, supera 65.
O vencedor da sucessão paulista
não terá escolha: sua gestão se resumirá a encontrar verba para construir mais e mais presídios. Quando
quiser pensar em outro tema, o sucessor de Alckmin terá chance de se
debruçar sobre a Febem. E daí pode
variar de novo, para o PCC.
As penitenciárias lotadas representam para os bandidos o que as
fábricas abarrotadas significaram
para os trabalhadores no início da
industrialização: um convite natural à organização. A diferença é que
o movimento dos operários civilizou o capitalismo, enquanto a nave
do PCC está na rota da barbárie.
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