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MARTA SALOMON
Barganhar é do jogo
BRASÍLIA - Em vez de provocar
discursos escandalizados na oposição e irritar o eleitor, a troca de cargos na administração pública por
apoio no Congresso deveria ser entendida como parte do jogo entre
partidos e governantes.
Em maior ou menor grau, o clientelismo -tido como a barganha de
cargos e a liberação de verbas para
aliados e suas bases eleitorais- é
uma característica dos sistemas políticos como o nosso, em que o presidente da República concentra poder e precisa do apoio de mais de
um partido para governar.
As alternativas se resumiriam a
negociar no varejo, voto a voto, ou
com estruturas partidárias. Cargos
isolados ou áreas inteiras da administração.
O problema não é o PMDB ganhar mais espaço na Esplanada dos
Ministérios, empresas estatais e adjacências do poder, como fez nos
acertos que precederam a disputa
da reeleição por Fernando Henrique Cardoso e, agora, por Lula.
Mais relevante é transparência
dos acertos e a qualidade das políticas públicas produzidas sob tais
alianças.
O famoso disquete em que o ex-secretário-geral de FHC Eduardo
Jorge guardava o mapa dos padrinhos dos ocupantes de cargos públicos nunca foi tornado público.
Lula contribuiu menos para tornar
o jogo transparente.
Pior é a tolerância nos últimos
anos com desvios de padrinhos e
apadrinhados no trato com políticas e verbas públicas.
Às vésperas de o escândalo do
mensalão estourar, Lula mantinha
prestigiado o então ministro da
Previdência, Romero Jucá, investigado exatamente por desvio de dinheiro público.
Sem abalos no prestígio, o senador deixou o posto na reforma ministerial e virou líder do governo.
Um ano depois, dá palpite nas indicações da crescente cota do PMDB
no poder.
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