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SERGIO COSTA
Manda quem pode
RIO DE JANEIRO - "É do portão
para baixo. Mazinho [traficante]
mandou avisar que não é para subir
lá! Se subir, nós vamos tosar!". Tradução: matar!
O recado desceu de moto da Vila
Cruzeiro, na zona norte, e foi transmitido aos cabos eleitorais do tucano Eduardo Paes por dois homens.
A comitiva não pensou duas vezes e
levou seus panfletos embora, conforme relataram os repórteres da
Folha na edição de sexta.
Ainda na quinta, a juíza Denise
Frossard (PPS) estreava na disputa
pelo governo do Estado no morro
da Providência, um dos mais violentos da cidade. Nada mal para
quem havia dito que não faria
campanha em favelas por falta de
segurança.
A juíza vestiu o terninho, mas tomou seus cuidados. A assessoria
marcara a visita uma semana antes
-via representante da prefeitura
que a apóia-, e ligou pela manhã
para saber se estava "tudo calmo".
Estava e ela poderia subir. Mesmo
assim, escoltada por seguranças e
com o caminho aberto por uma
ocupação da PM.
No dia seguinte, foi o senador
Marcelo Crivella (PRB), outro postulante a comandar o Estado não-paralelo, quem deu o recado aos
jornalistas, no Jacarezinho, com
sua voz pastoral: "Vocês sabem que
não podem entrar, né?".
Nos dois primeiros dias de campanha, o crime no Rio usou o tucano, a juíza e o bispo-senador para
mostrar quem manda em boa parte
da cidade.
Talvez por isso o Rio tenha ficado
de fora da onda de terror que São
Paulo enfrenta desde maio.
Aqui, essa fase de afirmação da
autoridade paralela das facções é
passado. Territórios estão demarcados há tempos e voltam a ser referendados agora pelas atitudes dos
candidatos -todos eles atores de
um teatrinho faz-de-conta nas favelas. Francamente.
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