São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Cicatrizes

BRASÍLIA - Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e Jorge Bornhausen, do PFL, são os dois mais ácidos críticos do PT, de Lula e de seu governo. Não é à toa.
Sociólogo, socialista, professor da USP perseguido pela ditadura, FHC foi próximo de Lula e dos que vieram a fundar o PT. Não digere que os petistas tenham passado oito anos pregando que seu governo era o mais corrupto das galáxias, com o atual ministro Tarso Genro lançando o "fora FHC".
Político profissional, assumidamente de direita, Bornhausen foi do PDS no regime militar e liderou a dissidência que apoiou as Diretas Já, desbancou a candidatura Paulo Maluf e forjou a aliança com Tancredo Neves, do PMDB.
Tem o pecado do passado, mas não engole que o PT tenha levado a vida martelando que a esquerda é limpa e a direita corrupta para chegar nisso que está aí. Em décadas na política, Bornhausen não foi pego em maracutaias -e rejeitou Maluf justamente por isso.
Tanto FHC como Bornhausen não são mais candidatos a nada e caminham para o ocaso político, ambos desesperados com a possibilidade de Lula, apesar de tudo, conseguir o que nenhum outro presidente conseguiu: um pacto nacional das forças políticas.
Lula desdenha os dois, acha que Geraldo Alckmin volta à sua real dimensão e investe nos líderes emergentes do PSDB, como José Serra e Aécio Neves, que devem se eleger em primeiro turno em dois dos três principais Estados e serão o peso e o contrapeso de um novo governo petista -quer dizer, lulista.
Ambos, porém, olham o passado para agir no presente e articular o futuro. O PT feriu profundamente e foi ferido. Há cicatrizes e não haverá pacto. Pode haver acordos pontuais, cercados de desconfiança e sem fantasias. Muito menos a de petistas apoiando um tucano para a Presidência em 2010.


elianec@uol.com.br

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