São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

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LUIZ FERNANDO VIANNA

As periferias estão chegando

RIO DE JANEIRO - Como nós do continente americano sabemos bem, o mundo já foi menor. Antes das grandes navegações, nem fazia sentido pensar em centro e periferia. Hoje, vale pensar onde acaba um e começa a outra.
Num só dia da semana passada, mil africanos desembarcaram nas Ilhas Canárias. Já são mais de 20 mil em 2006. Chegam (os que chegam) em superlotados barcos de madeira, com fome, sede e sonhando com os braços abertos do governo socialista espanhol. Entre 2004 e 2005, quase 1 milhão conseguiu o visto de permanência. Mas a Espanha está tendo que endurecer o jogo agora.
Não é caso isolado. Já vimos cenas parecidas com albaneses na Itália e cubanos nos EUA. E há indianos na Inglaterra, árabes na França, turcos na Alemanha... Há todos em todo o lugar. O que é periferia?
Os nacionalistas (ou protecionistas, ou racistas, o freguês escolhe) do Primeiro Mundo querem barreiras legais, físicas, econômicas, militares. Mas eles são Primeiro Mundo porque suas empresas, seus produtos, seus Exércitos entram à vontade no Terceiro. E as guerras em curso contra grupos terroristas nem sequer respeitam fronteiras nacionais -a recíproca é verdadeira, diga-se de passagem.
Parece uma realidade distante? No Brasil, já se falou em muros emparedando favelas e acredita-se, a despeito dos fatos, que um número cada vez maior de presídios trará cada vez mais segurança.
Gradeados em nossos condomínios, os abonados queremos proteger nosso centro de uma periferia do tamanho do mundo. Parece que não está funcionando. O pior é que não conseguimos formular outras saídas. E cada indivíduo vai virando uma pequena ilha Canária. A Terra está ficando menor de novo.
E além disso ainda sumiram com um planeta.


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