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LUIZ FERNANDO VIANNA
As periferias estão chegando
RIO DE JANEIRO - Como nós do
continente americano sabemos
bem, o mundo já foi menor. Antes
das grandes navegações, nem fazia
sentido pensar em centro e periferia. Hoje, vale pensar onde acaba
um e começa a outra.
Num só dia da semana passada,
mil africanos desembarcaram nas
Ilhas Canárias. Já são mais de 20
mil em 2006. Chegam (os que chegam) em superlotados barcos de
madeira, com fome, sede e sonhando com os braços abertos do governo socialista espanhol. Entre 2004
e 2005, quase 1 milhão conseguiu o
visto de permanência. Mas a Espanha está tendo que endurecer o jogo agora.
Não é caso isolado. Já vimos cenas parecidas com albaneses na Itália e cubanos nos EUA. E há indianos na Inglaterra, árabes na França,
turcos na Alemanha... Há todos em
todo o lugar. O que é periferia?
Os nacionalistas (ou protecionistas, ou racistas, o freguês escolhe)
do Primeiro Mundo querem barreiras legais, físicas, econômicas, militares. Mas eles são Primeiro Mundo
porque suas empresas, seus produtos, seus Exércitos entram à vontade no Terceiro. E as guerras em curso contra grupos terroristas nem
sequer respeitam fronteiras nacionais -a recíproca é verdadeira, diga-se de passagem.
Parece uma realidade distante?
No Brasil, já se falou em muros emparedando favelas e acredita-se, a
despeito dos fatos, que um número
cada vez maior de presídios trará
cada vez mais segurança.
Gradeados em nossos condomínios, os abonados queremos proteger nosso centro de uma periferia
do tamanho do mundo. Parece que
não está funcionando. O pior é que
não conseguimos formular outras
saídas. E cada indivíduo vai virando
uma pequena ilha Canária. A Terra
está ficando menor de novo.
E além disso ainda sumiram com
um planeta.
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