São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

À espera do momento Kennedy

SÃO PAULO - A julgar pela pesquisa Datafolha que este jornal publica hoje, Marta Suplicy depende quase exclusivamente dos debates com José Serra para tentar reverter a vantagem do tucano.
Que outra arma poderia ser usada que tenha estado ausente do primeiro turno? Nenhuma delas foi suficiente para reduzir a vantagem com que Serra inicia o segundo turno, maior do que a que obteve nas urnas do turno inicial.
O debate, agora um mano a mano, será, em tese, a única possível novidade da campanha. Todo debate eleitoral pela TV é cercado pela expectativa de que haverá a repetição do duelo John Kennedy x Richard Nixon, há quase 50 anos. Kennedy estraçalhou Nixon e ganhou a eleição. Mas, de lá para cá, não houve nenhum episódio similar, ao menos com idêntica repercussão e idêntica unanimidade quanto ao desempenho de cada qual.
Houve, é verdade, o mau desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva no debate com Fernando Collor, nas presidenciais de 1989, mas há virtual consenso de que o efeito sobre o resultado se deu muito mais devido à edição do debate pela Rede Globo do que ao confronto em si.
Talvez pelo caso Nixon/Kennedy, o fato é que todos os participantes de debates apresentam-se devidamente preparados. Anteontem, por exemplo, impressionou ver como o candidato John Kerry tinha na memória números até duas casas depois da vírgula em vários assuntos, embora não os estivesse lendo no momento em que os comentava, passeando pelo auditório.
Posto de outra forma: é pouco provável que, no debate Marta x Serra, um dos dois (ou ambos) se perca na discussão de temas e dados específicos. O que pode, eventualmente, provocar efeito eleitoral importante é a exposição feliz ou infeliz da própria personalidade.
A TV é muito madrasta nesse sentido. Da mesma forma que superdimensiona aspectos positivos, expõe cruelmente momentos desagradáveis dos que ficam sob seu olhar teoricamente eletrônico.


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