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FERNANDO RODRIGUES
Depois da crise, abulia
BRASÍLIA - Um irmão de Lula é suspeito de traficar influência. O filho de
Zé Dirceu pode ter sido beneficiado
pelo governo. Não importa. A abulia
do brasileiro não tem fim.
A inexistência de reação popular somada à estabilidade e ao crescimento
da economia são sinais de que Lula e
a maioria de sua tropa não serão punidos -a não ser que o caso do
"mensalão" ressurja pelas mãos e bocas de pobres coitados que assumiram
toda a culpa sozinhos.
Até agora, apesar da fartura de indícios do esquema de corrupção envolvendo amplos setores do Congresso
e do Poder Executivo, nunca houve
manifestação pública de repúdio nas
ruas. Ao contrário, teve até ato chapa-branca de estudantes a favor do
governo. Enquanto isso, os shoppings
e os aeroportos continuam lotados.
Como cunhou James Carville nos
EUA, "é a economia, estúpido".
Na sexta-feira, o presidente da República chamou para dentro do Palácio do Planalto petistas acusados de
corrupção. Disse que não eram corruptos. São, na realidade, réus confessos de, no mínimo, terem usado dinheiro ilegal em campanhas eleitorais. O que aconteceu depois dessa
atitude tresloucada de Lula? Nada.
Um artigo ou outro de jornal e mais
nada. É como se o conjunto dos brasileiros sofresse de um processo inesperado, súbito, de afasia.
Nas próximas semanas, os nomes de
apenas 13 congressistas serão enviados para julgamento. Alguns vão renunciar. Escaparão da punição. Num
sinal de que a política está de ponta-cabeça, o PSDB, em tese o principal
partido de oposição, aplaude a eventual onda de renúncias.
Ao final, menos de dez deputados
poderão resultar cassados. É um número semelhante ao de 1994, quando
a CPI do Orçamento vasculhou esquema muito menor de corrupção.
Qual será a reação a esse número
restrito de punições? Zero ou quase
zero. É o Brasil no seu melhor. Cordialidade dissimulada é a nossa marca. E o nosso maior atraso.
frodriguesbsb@uol.com.br
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