São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

Perder para todos

RIO DE JANEIRO - A crise política que abalou governo e PT passou para segundo plano, e daí passará para plano algum, afogada por novas crises. Comentei ontem, por alto, a greve de fome de um bispo que é contrário à transposição das águas do São Francisco. Deveria comentar agora o plebiscito sobre a venda de armas, mas deixo o assunto para crônica mais extensa, que publicarei na Ilustrada, na próxima sexta-feira. Não percam. Do contrário, o perdido será o cronista, que poderá perder o emprego.
Não pretendo votar no plebiscito, a lei me garante esse direito -e mesmo que não houvesse o direito, não votaria. Independentemente do mérito da questão, acho que é escapismo do governo criar uma polêmica sobre um assunto naturalmente polêmico, que divide opiniões e interesses, futebolizando contra ou a favor de determinado time, os que são contrários ou favoráveis ao comércio de armas.
O bem e o mal obviamente em luta, uma luta óbvia, cada time com argumentos e inclinações naturais ou forçadas para a própria causa. Ganhando ou perdendo, ninguém mudará de opinião.
Se lutar pelo bem e pelo mal resolvesse, ninguém torceria pelo São Cristóvão, time aqui do Rio que nunca vencia e cuja bandeira cobriu o caixão do meu pai. Creio que foi o último torcedor do clube, cujos jogadores eram chamados de "alvos" pela crônica especializada. O uniforme deles era branco, e o lema era "perder para todos, menos para o Vasco". Como se vê, uma discriminação, não importa que causa ou interesse. O fato é que o São Cristóvão perdia sempre, principalmente para o Vasco, que lhe dava surras homéricas. Um dos dirigentes do clube chamava-se Homero, acho que Homero Pereira ou Homero Ferreira, dá no mesmo.
Dá no mesmo porque estou fugindo do assunto. Mas brevemente chatearei os possíveis leitores com um artigo sob o título: "Memórias póstumas de um carioca assassinado".

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