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LOUCURA EM JUÍZO
Não bastasse o fato de os
EUA serem uma das poucas
democracias ocidentais que ainda
aplicam a pena de morte, mantêm
esse procedimento mesmo quando o
condenado sofre de doenças mentais
graves. Na terça-feira, por exemplo,
foi executado em Atlanta, na Geórgia, James Willie Brown, que sofre de
esquizofrenia paranóide.
Na mesma terça, o governo do Estado de Arkansas decidiu manter a
condenação à morte de Charles Singleton, que também padece de esquizofrenia paranóide. Pior, Singleton vem sendo medicado à força para
estar mentalmente apto para ser executado, provavelmente em janeiro.
Há vários outros doentes mentais
nos corredores da morte dos EUA.
Segundo relatório recente da Human Rights Watch, um em cada seis
prisioneiros norte-americanos sofre
de transtornos mentais. Muitos deles
padecem de moléstias graves. A taxa
de doenças mentais em prisões é três
vezes maior do que a verificada na
população comum. Há três vezes
mais homens e mulheres com transtornos mentais nas prisões americanas do que em clínicas psiquiátricas.
Não se sugere, é claro, que se desculpem todos os crimes cometidos
por pacientes psiquiátricos. Não são
assim tão frequentes os casos em
que o paciente não tem nenhuma
condição de entender a ação que praticou, o que os tornaria inimputáveis.
Ocorre que o universo mental de
uma pessoa comporta mais gradações do que sugere a letra da lei. Não
é porque Brown e Singleton, por
exemplo, foram considerados aptos
a ser julgados que eles devem ser tratados como criminosos que não padecem de transtornos mentais.
Já que nem a medicina nem a Justiça estão prontas a determinar com
razoável grau de certeza a capacidade
de cada doente mental que vai a juízo, seria desejável que se reservasse
aos que sofrem de moléstias psiquiátricas graves uma pena que não fosse
a morte. Mas é pouco provável que
isso ocorra. Entre os paradoxos da
sociedade americana está o seu fascínio por uma Justiça antiquada, cruel,
desumana e pouco efetiva.
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