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São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

O novo-rico

RIO DE JANEIRO - Não sei se repararam, mas o atual presidente da República costuma sair-se bem quando visita ou passeia pelos países mais ricos e se dá mal quando está em regiões mais pobres ou com fama de serem mais pobres. Acredito que a explicação do fenômeno se deva à própria personalidade de Lula, que, em suas origens de operário, aprendeu a tratar com os de cima, expondo problemas e cobrando soluções com sinceridade, conhecimento de causa e quase sempre acertando na mosca.
O mesmo não acontece quando está em ambientes que, de alguma forma, lembram seu Nordeste, seu passado na Villares, seus duros tempos de contestador e líder dos oprimidos -qualidades que lhe deram o mandato presidencial e despertaram curiosidade no mundo inteiro.
Para dar dois exemplos, um já antigo, outro recente. Em Davos, no início de seu mandato, ele foi, com perdão da palavra, perfeito. Disse o que deveria dizer e no local apropriado. Em sua reunião com Bush também se saiu bem, marcou a posição do Brasil no cenário internacional, não queimou nenhum navio, não fechou portas, mas deu o recado.
O mesmo não tem acontecido quando viaja pela América Latina e, agora, pela África. Desperta entusiasmo, leva um ministro da Cultura que é um dos nossos grandes artistas e sabe se comunicar com qualquer platéia. Não é qualquer país que pode apresentar um ministro que, depois de um discurso formal, mistura-se com os artistas locais e se destaca como um legítimo pop star.
Mas os improvisos do presidente sempre pisam na bola, dando, inclusive, a impressão de uma coisa que Lula não é: um deslumbrado, um novo-rico saboreando um status postiço.
Aconselham ao presidente a se limitar a pronunciamentos escritos. Sinceramente, não combina muito com a sua persona pública. O que deve fazer é pensar melhor o que dizer e evitar vexames que ele não merece.


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