São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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EXCELÊNCIA DE FACHADA

As ações da Polícia Federal têm sido uma das bandeiras de marketing do governo federal. Em seus pronunciamentos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva refere-se constantemente às operações realizadas pela PF como sinais da implantação de um novo modelo de rigor e eficiência. Muitas vezes, essas operações são ostensivas e coreografadas num formato nitidamente concebido para reforçar, diante das câmeras da mídia, a suposta imagem de excelência da instituição.
Por trás dessas performances, contudo, esconde-se um organismo com sérias carências de recursos e infra-estrutura. Na última terça, servidores da PF fizeram uma "paralisação de advertência" em cinco Estados para exigir melhores condições de trabalho e protestar contra o aproveitamento político que o governo federal tem feito das operações.
Os organizadores do movimento afirmam que os policiais não raro têm de contribuir com seus próprios recursos para obter combustível, munição e até mesmo armas. Queixam-se também da falta de peritos, computadores e sistemas de vigilância interna para exercer controle sobre os materiais apreendidos, tais como armas, drogas e contrabando.
O recente desaparecimento de 136 quilos de cocaína da Superintendência da Polícia Federal, em São Paulo, ou o roubo de mais de R$ 2 milhões em cédulas de euro e dólar das dependências de sua sede, no Rio de Janeiro, são claro exemplo das condições precárias em que o trabalho da PF vem sendo realizado.
É claro que a instituição fez progressos nos últimos anos. A sucessão de ações contra o crime organizado representa um avanço importante no combate à impunidade. Mas não há como negar que a PF tem sido atingida pelo estado de penúria que se verifica em algumas áreas da máquina pública. E o país não tem nada a ganhar quando o governo opta por maquiar a realidade em vez de empenhar-se no provimento das condições mínimas de trabalho.


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