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DERROTA DE BLAIR
O premiê britânico, Tony Blair,
sofreu ontem sua maior derrota parlamentar ao ver rejeitada proposta de legislação antiterrorismo.
Por 322 votos contra 299, a Câmara
dos Comuns recusou um pacote de
medidas de combate ao terror que,
entre outras disposições, ampliava
de 14 para 90 dias o prazo para a polícia manter suspeitos presos sem
apresentar uma acusação formal.
Pelo menos 41 deputados do Partido Trabalhista, o de Blair, rebelaram-se e votaram contra a proposta,
que era o principal projeto acalentado pelo premiê desde os atentados
de 7 de julho, que mataram mais de
50 pessoas em Londres. Para tornar a
derrota um pouco menos amarga,
pouco depois de rejeitar o plano do
governo, o Parlamento aprovou uma
medida que amplia o prazo de detenção de 14 para 28 dias.
As conseqüências políticas da votação de ontem tendem a superar em
muito o seu eventual impacto sobre o
combate ao terrorismo. O premiê
perdeu grande parte de sua autoridade ao não conseguir aprovar o principal projeto do governo, no qual ele se
empenhara pessoalmente. Vários
analistas consideram que a derrota
tende a acelerar a substituição de
Blair por uma nova liderança do partido, provavelmente o ministro da
Fazenda, Gordon Brown, processo
que já vinha sendo discutido abertamente desde a eleição de maio, quando os trabalhistas conquistaram seu
terceiro mandato consecutivo.
Os críticos do pacote argumentavam, corretamente, que ele violava
direitos civis. É possível que a morte
do brasileiro Jean Charles de Menezes pela polícia londrina tenha contribuído para a rejeição. Depois da
sucessão de erros e dos esforços das
autoridades para escondê-los, ficou
mais difícil defender a ampliação dos
poderes da polícia.
É bom constatar que os britânicos,
ao contrário dos americanos, não cederam à tentação de trocar a inviolabilidade dos direitos por medidas
que não fariam muito mais que trazer uma falsa sensação de segurança.
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