São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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DERROTA DE BLAIR

O premiê britânico, Tony Blair, sofreu ontem sua maior derrota parlamentar ao ver rejeitada proposta de legislação antiterrorismo. Por 322 votos contra 299, a Câmara dos Comuns recusou um pacote de medidas de combate ao terror que, entre outras disposições, ampliava de 14 para 90 dias o prazo para a polícia manter suspeitos presos sem apresentar uma acusação formal.
Pelo menos 41 deputados do Partido Trabalhista, o de Blair, rebelaram-se e votaram contra a proposta, que era o principal projeto acalentado pelo premiê desde os atentados de 7 de julho, que mataram mais de 50 pessoas em Londres. Para tornar a derrota um pouco menos amarga, pouco depois de rejeitar o plano do governo, o Parlamento aprovou uma medida que amplia o prazo de detenção de 14 para 28 dias.
As conseqüências políticas da votação de ontem tendem a superar em muito o seu eventual impacto sobre o combate ao terrorismo. O premiê perdeu grande parte de sua autoridade ao não conseguir aprovar o principal projeto do governo, no qual ele se empenhara pessoalmente. Vários analistas consideram que a derrota tende a acelerar a substituição de Blair por uma nova liderança do partido, provavelmente o ministro da Fazenda, Gordon Brown, processo que já vinha sendo discutido abertamente desde a eleição de maio, quando os trabalhistas conquistaram seu terceiro mandato consecutivo.
Os críticos do pacote argumentavam, corretamente, que ele violava direitos civis. É possível que a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes pela polícia londrina tenha contribuído para a rejeição. Depois da sucessão de erros e dos esforços das autoridades para escondê-los, ficou mais difícil defender a ampliação dos poderes da polícia.
É bom constatar que os britânicos, ao contrário dos americanos, não cederam à tentação de trocar a inviolabilidade dos direitos por medidas que não fariam muito mais que trazer uma falsa sensação de segurança.


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