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CLÓVIS ROSSI
O problema é global
SÃO PAULO - Em meados do ano passado, a TV belga exibiu documentário sobre a vida dos imigrantes argelinos no país. Em meio aos problemas habituais de discriminação e pobreza, aparecia um executivo de empresa belga para dizer que, ao contrário da sabedoria convencional, ele
preferia empregar muçulmanos porque suas mulheres eram submissas e,
portanto, não reclamavam de o marido ficar mais tempo fora de casa,
em horas ou dias extras, ao contrário
das mulheres belgas.
Ou, posto de outra forma, quando
os costumes (supostos ou reais) dos
imigrantes são pró-empresa, tudo
bem. Agora que os, digamos, costumes dos imigrantes muçulmanos na
França passaram a ser o de botar fogo em meio país, o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, saca do coldre
a idéia de expulsar os estrangeiros
detidos nos incidentes.
Do ponto de vista jurídico-policial,
é até explicável. Cometeu crime no
país de acolhida, é expulso. Do ponto
de vista das tradições da França como país de asilo, soa a aberração.
Note-se que Sarkozy não é um desses brucutus xenófobos da extrema-direita. É estrela em ascensão da política francesa, a única aliás.
A reação do ministro mostra que as
perplexidades estão espalhadas por
todo o arco político-ideológico e vão,
ademais, bem além da França. Mesmo os britânicos, tradicionais rivais
dos franceses, evitam exibir seu próprio modelo dito multicultural como
exemplo. No que fazem bem: não há
diferença, em termos de fracasso da
integração étnica, entre incendiar
carros na França ou explodir trens do
metrô em Londres. É bom lembrar
que um dos acusados dos atentados
ao metrô londrino era filho do dono
de um "fish and chips", o mais tradicional fast food local.
Não dá, pois, para falar em crise do
modelo social francês. Se há crise, é
global. Dos países pobres, Brasil inclusive, pela incapacidade de darem
sonhos a todos os seus. Dos países ricos, porque atraem os pobres, mas já
não conseguem atendê-los.
@ - crossi@uol.com.br
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