São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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RUY CASTRO

Falta o Cartola

RIO DE JANEIRO - Cartola, o compositor de obras-primas como "Acontece", "As Rosas Não Falam", "O Mundo é um Moinho" e tantas mais, teria completado 100 anos no dia 11 de outubro último. Rádios e TVs produziram programas, jornais lhe dedicaram suplementos, gravadoras soltaram discos e, durante breve temporada, ouviu-se mais Cartola do que de costume. Mas é pouco. Como muitos autores do cancioneiro brasileiro, Cartola deveria ser tocado o ano todo, sem depender de efemérides.
As comemorações destacaram que o sambista, já uma lenda na Mangueira e sendo gravado nos anos 30 pelos bambambãs Francisco Alves, Carmen Miranda e Sylvio Caldas, foi maior ainda em sua segunda carreira, iniciada em 1963 com a saga do restaurante Zicartola, na rua da Carioca, quando Cartola foi descoberto pelos jovens.
Eu recuaria o começo dessa carreira temporã a 1960, quando o já cinqüentão Cartola conheceu o garoto Elton Medeiros, 22 anos mais novo, e os dois iniciaram uma parceria que produziu, de saída, "O Sol Nascerá" ("A Sorrir..."). E que continuaria pelos anos seguintes, com "A Mesma História", "Peito Vazio" e várias outras, das quais duas jóias: "Injúria" e "Sofreguidão".
A morte de Cartola em 1980 deixou uma quantidade de parcerias inacabadas entre ele e Elton -sambas ainda em gestação e outros que só precisavam de um toque ou de um retoque. O centenário do mestre seria um ótimo pretexto para que Elton terminasse esses sambas e os lançasse, quem sabe, num grande disco de "inéditos" -legítimos Cartolas recém-saídos do forno. Renderia até um dinheirinho.
Mas Elton não fez isso, nem fará. Aos amigos, como eu, que lhe perguntam o que falta para ele completar os sambas, sua resposta é sempre a mesma: "Falta o principal
-o Cartola".


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