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RUY CASTRO
Falta o Cartola
RIO DE JANEIRO - Cartola, o
compositor de obras-primas como
"Acontece", "As Rosas Não Falam",
"O Mundo é um Moinho" e tantas
mais, teria completado 100 anos no
dia 11 de outubro último. Rádios e
TVs produziram programas, jornais lhe dedicaram suplementos,
gravadoras soltaram discos e, durante breve temporada, ouviu-se
mais Cartola do que de costume.
Mas é pouco. Como muitos autores
do cancioneiro brasileiro, Cartola
deveria ser tocado o ano todo, sem
depender de efemérides.
As comemorações destacaram
que o sambista, já uma lenda na
Mangueira e sendo gravado nos
anos 30 pelos bambambãs Francisco Alves, Carmen Miranda e Sylvio
Caldas, foi maior ainda em sua segunda carreira, iniciada em 1963
com a saga do restaurante Zicartola, na rua da Carioca, quando Cartola foi descoberto pelos jovens.
Eu recuaria o começo dessa carreira temporã a 1960, quando o já
cinqüentão Cartola conheceu o garoto Elton Medeiros, 22 anos mais
novo, e os dois iniciaram uma parceria que produziu, de saída, "O Sol
Nascerá" ("A Sorrir..."). E que continuaria pelos anos seguintes, com
"A Mesma História", "Peito Vazio"
e várias outras, das quais duas jóias:
"Injúria" e "Sofreguidão".
A morte de Cartola em 1980 deixou uma quantidade de parcerias
inacabadas entre ele e Elton -sambas ainda em gestação e outros que
só precisavam de um toque ou de
um retoque. O centenário do mestre seria um ótimo pretexto para
que Elton terminasse esses sambas
e os lançasse, quem sabe, num grande disco de "inéditos" -legítimos
Cartolas recém-saídos do forno.
Renderia até um dinheirinho.
Mas Elton não fez isso, nem fará.
Aos amigos, como eu, que lhe perguntam o que falta para ele completar os sambas, sua resposta é sempre a mesma: "Falta o principal
-o Cartola".
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