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CLÓVIS ROSSI
Quando o emergente submerge
SÃO PAULO - Depois de tanta
conversa sobre "potência emergente", aquela foto na capa desta Folha
mostrando São Paulo submersa é
um choque de realidade.
Puxo pela memória para lembrar
se alguma cidade relevante de país
que de fato já emergiu ficou submersa e isolada como São Paulo anteontem. Sim, houve episódios graves em várias delas, mas como decorrência de chuvas bíblicas. A de
São Paulo foi forte, mas nada que
levasse Deus a mandar Noé construir uma arca.
Submerge a cidade que já foi administrada por todas as correntes
políticas importantes do país, desde o janismo, o adhemarismo, até
as mais contemporâneas.
Antes, no "Jornal Nacional", outra imersão no subdesenvolvimento, propiciada pelo relatório da Human Rights Watch. Mostra um fenômeno: a mesma polícia que não
consegue impor padrões de segurança pública ao menos perto de civilizados mata mais do que a polícia
da África do Sul, cujos índices de
criminalidade são terríveis.
O relatório compara o emergente
Brasil com os já "emergidos" EUA:
a polícia norte-americana prendeu,
em 2008, 37 mil pessoas para cada
morte que produziu. No Rio, uma
morte a cada 23 detenções. E todo o
mundo sabe que a polícia dos Estados Unidos não tem a gentileza de
cavalheiros como um dos requisitos para contratar agentes.
Volto alguns dias e revejo imagens do vandalismo no estádio do
Coritiba, no domingo. Foi um microcosmo da realidade brasileira:
os desordeiros perderam o medo e
o respeito à polícia, tal como acontece com a bandidagem. Quando
ainda não éramos emergentes, baderneiros e bandidos fugiam à
aproximação da polícia.
Agora, a polícia é que tem de proteger-se do ataque dos vândalos,
como se viu no estádio.
Se Nelson Rodrigues ainda vivesse, entenderia melhor porque temos complexo de vira-lata.
crossi@uol.com.br
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