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ELIANE CANTANHÊDE
Grandes irmãos
BRASÍLIA - O ministro da Defesa,
Nelson Jobim, e o presidente da Infraero, Murilo Marques, instalaram
um novo brinquedinho em seus gabinetes: um sistema de monitoramento de aeroportos, direto, 24
horas por dia.
Cada um tem uma tela de 42 polegadas conectada às câmeras de segurança do check-in e das salas de
embarque e de desembarque dos
sete aeroportos nevrálgicos do país:
Guarulhos, Congonhas, Galeão,
Santos Dumont, Brasília, Recife e
Confins, em Minas.
Enquanto despacham, assinam
documentos e falam ao telefone, o
ministro e o presidente da companhia acompanham ao vivo o movimento dos aeroportos, identificando em tempo real filas excessivas e
tumultos, principalmente nestes
tempos de temporais e consequentes atrasos de voos. Os aeroportos
viram um inferno.
Mas não é só isso. Como o "Grande Irmão", de George Orwell, eles
passam também a ver e, de certa
forma, a vigiar as pessoas. Você aí,
comporte-se! Nada de, entre outras
coisas, socar pacotes de dinheiro
em bolsas, meias e cuecas nos aeroportos. Lembre-se de que os "grandes irmãos" estão te olhando e o risco é ter de se empanturrar de panetones para justificar a bolada.
Brincadeira à parte, o mais curioso é que esse novo monitoramento
ocorre justamente quando se diz
que o governo quer aprofundar a
desmilitarização do setor aéreo, tirando a Infraero, a Anac, o controle
de tráfego aéreo e muito mais da esfera da Defesa, além de deflagrar o
sistema de concessão e até a futura
privatização de aeroportos.
Não faz sentido, porque, ou bem o
governo se abre à iniciativa privada,
ou bem o governo se fecha para fazer monitoramento direto. O brinquedinho de Jobim e Murilo, portanto, serve de confirmação de que
não se vai abrir nada nem desmilitarizar mais nada. Fica como está.
PS - De um militar, ao saber que o
anúncio dos caças ficou para 2010:
"Tem caroço nesse angu".
elianec@uol.com.br
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