São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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ELIANE CANTANHÊDE

Grandes irmãos

BRASÍLIA - O ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o presidente da Infraero, Murilo Marques, instalaram um novo brinquedinho em seus gabinetes: um sistema de monitoramento de aeroportos, direto, 24 horas por dia.
Cada um tem uma tela de 42 polegadas conectada às câmeras de segurança do check-in e das salas de embarque e de desembarque dos sete aeroportos nevrálgicos do país: Guarulhos, Congonhas, Galeão, Santos Dumont, Brasília, Recife e Confins, em Minas.
Enquanto despacham, assinam documentos e falam ao telefone, o ministro e o presidente da companhia acompanham ao vivo o movimento dos aeroportos, identificando em tempo real filas excessivas e tumultos, principalmente nestes tempos de temporais e consequentes atrasos de voos. Os aeroportos viram um inferno.
Mas não é só isso. Como o "Grande Irmão", de George Orwell, eles passam também a ver e, de certa forma, a vigiar as pessoas. Você aí, comporte-se! Nada de, entre outras coisas, socar pacotes de dinheiro em bolsas, meias e cuecas nos aeroportos. Lembre-se de que os "grandes irmãos" estão te olhando e o risco é ter de se empanturrar de panetones para justificar a bolada.
Brincadeira à parte, o mais curioso é que esse novo monitoramento ocorre justamente quando se diz que o governo quer aprofundar a desmilitarização do setor aéreo, tirando a Infraero, a Anac, o controle de tráfego aéreo e muito mais da esfera da Defesa, além de deflagrar o sistema de concessão e até a futura privatização de aeroportos.
Não faz sentido, porque, ou bem o governo se abre à iniciativa privada, ou bem o governo se fecha para fazer monitoramento direto. O brinquedinho de Jobim e Murilo, portanto, serve de confirmação de que não se vai abrir nada nem desmilitarizar mais nada. Fica como está.
PS - De um militar, ao saber que o anúncio dos caças ficou para 2010: "Tem caroço nesse angu".

elianec@uol.com.br


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